7.12.2005

 
Pior que exemplo é bom mesmo

Devo confessar que adorei a campanha nova do governo federal, aquela do bom exemplo. Se não der em nada, vale pelo menos a tentativa de inserir um pouco de cidadania na cabeça do povo que vê a malandragem como parte da sua identidade cultural. Ainda que o governo em si não estja dando muito bom exemplo, mas isso é assunto pra outro texto.

Eu sempre fui uma sonhadora anarquista. Do tipo que imagina um mundo onde as pessoas não precisariam lutar contra instituições e regras simplesmente porque as instituições e regras não precisariam existir. Todo mundo guiaria suas ações de acordo com as leis do bom senso e todos viveriam em harmonia. Os problemas existiriam, mas não seria preciso a existência de policiais, juízes, advogados, deputados, vereadores, leis nem nada disso para resolvê-los. Todos seriam intelectualmente capazes de chegar a um acordo sobre a medida mais justa e correta a ser tomada em cada situação.

E não estou falando de nada politicamente correto, até porque ODEIO o politicamente correto. Inclusive acho que o melhor exemplo do politicamente correto são os Estados Unidos, que, convenhamos, não é exemplo a ser seguido por ninguém. Como adotei a expressão "sonhadora anarquista" sozinha mesmo, admitindo minha ignorância e falta de vontade (pra não dizer preguiça) de pesquisar o tema Anarquismo a sério, nem falava sobre minha grande utopia de mundo com ninguém, achando que nego iria considerar isso ridiculamente impossível e eu pegaria fama de hiponga tresloucada sem noção. Mas um belo dia ouvi Marcelo Nova (um cara a quem eu admiro demais muitão pra caralho) dizer exatamente isso. Bom, pelo menos não sou a única que acredita nessa maluquice. Talvez até existam mais.

Aí lembrei de uma história que um professor de Geografia que eu tive me contou sobre o Canadá. Ele foi passar férias lá com uma excursão e recebeu etiquetas com orientação de colá-las nos objetos de valor dizendo o nome dele, o quarto em que estava hospedado e o telefone do hotel. Obviamente na cabeça de um brasileiro isso não teria serventia nenhuma, mas ele colou as etiquetas mesmo assim. E perdeu a sua câmera fotográfica profissional em um dos passeios. Pra ele a viagem já tinha acabado, diante de tamanho contratempo. Ao voltar pro hotel, SURPRESA!, já tinha um recado na recepção. Um canadense tinha achado a câmera e estava se disponibilizando a devolver. "Lá vem golpe, esse cara vai cobrar vários e vários dólares. Vai ser mais vantajoso comprar uma câmera nova.", pensou o professor que, como todo brasileiro, pensa em primeiro lugar no que vai ser mais vantajoso pra ele, claro. Mas o canadense não estava interessado em receber recompensa. Só queria devolver a câmera, só isso. No entanto ele morava muito longe do hotel e a programação da excursão no dia seguinte não cruzava em momento algum com sua rotina. Então ficou combinado que o anfitrião deixaria a câmera pela manhã dentro de uma sacola preta no banco assim assado da praça tal, onde a excursão passaria pela tarde. "Ta bom, vai deixar mesmo...".

E num é que no banco assim assado da praça tal (SURPRESA!) havia uma sacola preta?? O professor e seus colegas de excursão se aproximaram muito intrigados e com muito, muito cuidado. Poderia ser alguma brincadeira sem graça. Um dos turistas cogitou a hipótese do cara ter enchido a sacola de merda pra pregar uma peça. Alguns até observavam ao redor a procura de uma câmera escondida achando que aquilo só podia ser alguma pegadinha de algum Faustão canadense. Pois sabem o que tinha dentro da sacola? Vejam só que coisa! A câmera! E mais: Um bilhete dizendo "For Fulano. Please, let me know if you got the camera. Hope you enjoy our country." Traduzindo: "Para Fulano. Por favor, me informe se você pegou a câmera. Espero que goste do nosso país." Sinistro!

Constrangido com tamanha cordialidade, o professor se sentiu na obrigação de dar uma justificativa ao guarda que observava tudo a alguns metros do banco.

-Bom dia. Olha, eu to pegando a sacola, mas ela é minha ta?
O guarda olhou com cara de espanto e respondeu:
-E se não fosse sua, o senhor iria pegar?

O mais impressionante é que eles são seres humanos. Desse mundo mesmo. Não de Órion. Do planeta Terra. Viu? Eles existem. A humanidade pode ser um negócio legal, quem sabe... É só uma questão de tempo e evolução... E de seguir bons exemplos.
posted by Arlequina @ 8:06 AM  
 



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