- Hoje em dia a gente não precisa de uma Carla Perez ou uma Cássia Eller. Não precisa, cara... Nós já tivemos uma Marilyn Monroe e uma Marlene Dietrich. Sabe quem é? Marlene Dietrich, aquela atriz dos anos vinte que usava terno, beijava outras negas na boca e mostrava as pernas. Então. O que eu acho é que essa história de vanguardismo já anda profanada há muito tempo. Como pode ser vanguarda uma coisa que já foi feita há 50, 60 anos atrás? Mas elas existem. Existe uma caralhada de Carla Perez e Cássia Eller no mundo, andando por aí semi-nua ou se comportando feito caminhoneiro, não importa. E sabe por que elas existem? Porque é fácil, cara. Porque podem. Tem discurso moralista? Tem... Agora não vem me dizer que elas quebram paradigmas e sofrem tanto por isso, meu deus, num mundo onde apedrejar e queimar mulher na fogueira já caiu em desuso. É fácil sim.
- Sei...
- Quebra de paradigma é a Luma de Oliveira contrariar um monte de feminista histérica rebolando alegremente com uma coleira contendo o nome do marido...
- Ex-marido. Não lembra da história do bombeiro?
- Bombeiro? Nem lembro. Enfim. Aí vêm aquelas mulheres superindependentes que não são de homem nenhum e berram que a Luma de Oliveira fez um gesto absurdo que joga por terra toda a luta delas contra o domínio masculino. Então de repente a adesão à causa se torna uma obrigação de todas as mulheres só pelo fato de terem nascido mulheres. Daí hoje em dia além de sair da casa do pai, trabalhar, decidir se tem filho ou aborta, dividir conta do motel, do restaurante, cozinhar, lavar e sofrer de TPM a mulher tem que se lembrar sempre que não pode obedecer a homem nenhum. Mas tem que obedecer a regras arbitrárias que foram criadas antes dela nascer. Aí o paradoxo! Percebe?
- Pois é...
- A luta não deveria ser pela igualdade dos sexos. Os sexos não são iguais. A luta deveria ser pelo direito de escolha, pela liberdade. E se a mulher escolher ser submissa? Por que não pode? Entende? Hoje em dia uma mulher é submissa porque quer, cara. Uma mulher que apanha do marido hoje é diferente de uma mulher que apanhou do marido há cinqüenta anos atrás. Naquele tempo ela não podia se divorciar, ela não tinha direito a nada. No máximo seria uma desquitada que voltaria pra casa do pai (isso se o pai quisesse!) com o rabo entre as pernas. Sem emprego, sem nada. Ou então virava puta.
- Hein? Quem é puta?
- A mulher, pô!
- Que mulher?
- A mulher que resolvesse largar o marido há cinqüenta anos atrás... Pô, você não ta prestando atenção?
- Tô, tô...
- Então, é isso. O machismo parte da própria mulher também... Sabe, e se ela quiser esperar até o casamento pra dar? Legal, pô, ela pode... É dela né? Ela dá quando quiser... Mas e se ela arruma um cara que não quer esperar? Ela vai ser corna. E se não for besta ela vai saber que ta sendo corna. Então é tudo um jogo, um acordo silencioso. Ela é mulher pra casar, ele que arrume mulher pra trepar. É feio isso. Eu odeio essa história, mas pô... tem gente que vive assim, que que eu posso fazer? Vou bater de porta em porta das casas de família levando minha doutrina feminista pras mocinhas cornas? Não, cara. Não vou julgar, sabe por quê? Porque eu luto pelo direito da mulher fazer o que ela quiser. E ela não é obrigada a viver essa vida. Ela escolheu.
- Pode crer...
- Então, todo mundo que adere uma causa precisa se atualizar. Se não vira puro fundamentalismo, fanatismo... Se as feministas lutaram tanto pra que as mulheres tivessem uma vida própria, por mais que seja frustrante, elas têm que admitir que as "beneficiadas" da luta são donas das próprias vidas e podem fazer com elas o que quiserem, inclusive não vive-las.
- Ta bom, mas na moral... Cala a boca e chupa aqui, vai!