Contos do Encontro Nacional dos Estudantes de História #1
Então estava eu tranquilamente tomando cerveja na tradicionalíssima Didática V com um amigo meu futuro historiador de Mossoró. Conversa vai, cerveja vem, dois cariocas da mesa do lado começaram a puxar assunto. Um gordinho mais ou menos e outro com cara de pit boy. "Isso pode ser divertido", pensei. Afinal eu estava bêbada e tudo tem potencial de diversão. Ok, cariocas, aprochegem-se.
"Posso te chamar de Pará"? Foi a pergunta que o pit boy fez pro meu amigo. Que era de Mossoró. Rio Grande do Norte. Perguntei se era uma nova abreviação pra "paraíba", palavra usada por todo carioca maniero pra se referir ao nordestino que não é baiano. Me explicaram: "paraíba é pejorativo, pará é carinhos". Ok, pit boy carinhoso.
Então a conversa logo chegou na política, afinal somos estudantes bêbados sentados numa mesa de bar. Do que mais poderíamos falar? Os caras eram petistas. Novidade. Sabiam quem é o Prefeito de Aracaju. Grandes coisas. Mas surpreenderam ao contar toda a história de vida dele, dizendo que se tratava de um político que eles admiram muito e de quem acompanham o trabalho há muitos anos. Ponto pros cariocas... Então a conversa passou por cotas de negros, de pobres, Cuba, Estados Unidos, Globo, grandes revoluções da humanidade blá blá blá. E apesar dos pontos de vista deles não serem os mais legais do mundo (na verdade eram dois positivistas de classe média) a questão era: eles TINHAM pontos de vista. E muito bem formulados e expressados, não aquela coisa chata e medíocre de estudante que luta contra o capitalismo parando de tomar coca-cola. Veja só que coisa, pit boy tem pontos de vista!
E não parou por aí... Eles eram fãs de literatura brasileira. Nomes como "Machado de Assis" e "Nelson Rodrigues" saíram da boca do pit boy, que se declarou um grande discípulo deste último (pra mim um tarado idiota e sem graça, mas enfim...). A questão é: não eram pessoas que concordavam comigo em qualquer que fosse o tema (a não ser em um: a pior raça de carioca é a que mora na Barra da Tijuca), mas eram pessoas desconhecidas capazes de fazer uma conversa render uma tarde inteira sem que eu nem notasse o tempo passar. E, se tratando de gente que eu não conheço, é MUITO difícil conversar comigo uma tarde inteira sem que eu encha o saco. Mesmo bêbada.
Então em dado momento eu me senti na obrigação de me desculpar com o pit boy. "Po, cara, vc é legal, uma pessoa agradável de se bater papo... Eu te julguei pela aparência a princípio e não estava certa..." Oh maldita humildade a minha!! Como eu me esqueci disso? Os manés são HOMENS. E HOMENS encaram todo e qualquer elogio vindo de uma mulher como "quero dar pra você". O gordinho me parabenizou pela minha inteligência dizendo que é difícil encontrar uma mulher inteligente no mundo (e ele disse isso pra me agradar!!!). Dou um real pra quem acertar a minha resposta. O pit boy foi mais além: como ele se interessa por literatura brasileira, me fez DUAS poesias no guardanapo do bar. Não sem antes trocar meu nome. "Milena, não é?".
Eis a transcrição EXACTA das belíssimas obras por mim inspiradas:
Tributo à Débora
Uma menina Uma amizade Modéstia à parte Na cidade
Te adoro linda Te adoro, nega Você é virgindade Alegria e tristeza
Oi, tudo bom? Não. Com sua simplicidade É a sua expressão
Tão prontos pro próximo? Então lá vai:
Milena (sob pseudônimo)*
Quando te vi Fiquei perplexo No andar da vida Fiquei sem nexo Mas você assim Me deixa alto de paixão Só que quando vi Foi em vão Débora linda Num gingado de cão O seu olhar É fascinação E você Eu sou doidão
Um não em vão!
*JURO que ele teve essa cara de pau!
Então, gente, não foi super romântico? Um pit boy bêbado mostrando que entende de história, política e literatura, me faz duas poesias, me dá pseudônimo... o que falta? "Você é uma das mulheres mais lindas que já vi na minha vida..." Ta bom, carioca... sô mermo. "Você é mágica, é apaixonante". Anh ram... "Eu nunca vou esquecer você..." E o nível continua descendo... "Eu vou conquistar você". Não vai não, nego, eu já to conquistada. E não me leva a mal não, mas você nem faz meu tipo. "Você acha então que eu não sou capaz de conquistar você?" Não. "Quer apostar?" ¬¬
Dou um real pra quem acertar qual foi a minha resposta.
Moral da história: As aparências enganam. Ou não. ou ainda Homem é tudo filho da puta até que prove o contrário. Ou mesmo que prove o contrário. ou até mesmo Sempre julgue os outros antes de conhecer. ou quem sabe Cariocas são ridículos. E ponto final.
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