Ser carioca é...
Pegar uma kombi em Madureira (porque, segundo a minha amiga Michelly, experiente com assaltos e afins, transporte alternativo no Rio é MUITO mais seguro que ônibus); ouvindo funk no rádio ("É som de preto... de favelado... mas quando toca, ninguém fica parado"); enquanto o "cobrador" vai gritando o roteiro a cada ponto de ônibus: "Suburbana direto Cascadura Madureira shópem! É só um real!" e o motorista vai dando em cima de mim. E o mais interessante é que, depois que a minha amiga revelou que eu moro em Aracaju, ele continuou dando em cima de mim. Mas fazendo sotaque baiano. (!?)
Michelly: Ah, amiga, vc num tá gostando desse som aí no rádio, mas ainda não viu nada! Quero ver a cara que vc vai fazer quando conhecer o funk proibidão.
Eu: Ah, eu conheço, Mi.
Michelly: Conhece é? Duvido! Vc num faz idédia do que eles cantam nas músicas! Tati Quebra Barraco não é nada perto daquilo.
Eu: Faço idéia sim, Mi.
Michelly: Ah é? Quero ver vc dizer o nome de um bonde proibidão então que a galera de Aracaju conhece!
Eu: Chatuba de Mesquita.
Michelly (desconfiada): Você conhece isso?
Eu: Conheço.
Michelly (desafiadora): Então canta uma música.
Eu (afinadíssima): "Mulher de playboy / gosta de sexo anal / A Chatuba de Mesquita / Pega as mina de geral / Primeiro come o cú / Depois come a xereca / A Chatuba de Mesquita / É o bonde do careca..."
Michelly (chocada): Isso toca lá???
Eu: Ah, menina, depois que inventaram a internet as coisas proibidonas chegam looooonge!
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E no dia seguinte eu estava feliz no bairro nobre de Laranjeiras com a minha prima caminhando em direção a um chorinho de graça na feirinha. Então comentei inocentemente: "Poxa, aqui até que seria um lugar legal de se morar... É tranquilo e bonitinho". Nesse exacto momento um doido passou por mim, por algum motivo não foi com a minha cara e resolveu que a calçada era muito pequena pra nós dois. Então disse amistosamente "CAI FORA" e me deu uma cotovelada e um chute. (!???)
Doeu.
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Moral das histórias: Mesmo no Rio, da Zona Norte à Zona Sul, a música da consagrada banda sergipana Naurêa ainda faz muito sentido pra mim: "Bêbo, menino, cachorro e doido não pode me ver." |