1.03.2007

 
Da série: meus amigos estranhos e objetos preferidos (ou meus objetos estranhos e amigos preferidos)

Certa feita, meu amigo Daniel me trouxe dos States um chaveirinho em forma de ursinho castanho. Uma fofura de ursinho, meigo, sorridente e sadomasoquista. Sim, o ursinho vem vestido com traje sadomasô completo, composto de venda, espartilho, algemas, cuequinha fio dental e correntes. Uma graça. Pendurei o singelo bichinho na minha mochila companheira. Uma piadinha discreta e engraçadinha. Um belo dia estou eu tranqüilamente no ponto de ônibus quando senta uma moça do meu lado carregando sua filha de uns quatro, cinco anos de idade. E não é que a garotinha se encantou com o meu urso sadomasô? "Ooooooooolha, maaaaaaaãe, que bonitiiiiinho! Um ursiiiinho!". A mãe já estava quase concordando no que vê os detalhes do ursinho. Ela era daquelas pessoas que têm a desvantagem de ser muito brancas, portanto nunca conseguem disfarçar o constrangimento: o sangue começa logo a subir pra cabeça e se espalhar pela cara, denunciando a sem-gracisse em uma grande mancha vermelha-fogo.

- É, filha (hehehe) é uma gracinha sim (hihihi). Deixa aí o chaveirinho da moça, tá!
- Oooolha, mãe, ele tem ooooóculos!

(e a menina não largava o urso de jeito algum)

- Ahahah, veja só que coisa! Crianças não são fáceis, né (hehehe)? É, tem óculos... Larga o chaveirinho da moça, larga...
- E tem calciiiinha!

A essa altura todas as pessoas do ponto formavam uma comunhão de constrangimento, rindo e se cutucando. E a menina nada de largar o chaveirinho. Aí passou o ônibus. Eu entrei e a moça não. A menininha ainda disse "Tchaaau ursinhoooo!". Então eu balancei o ursinho como se ele desse tchau pra ela. A mãe me olhou com cara de "queime no fogo do inferno!" Ninguém mandou ter uma criança pervertida.

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Mas essa história é melhor. Numa das indas e vindas do seu relacionamento, minha amiga Mi tava na merda porque tinha terminado seu noivado pra sempre (como sempre). Então as colegas do trabalho resolveram fazer uma graça e lhe deram um vibrador lindíssimo (pelo menos pra quem gosta), uma réplica perfeita do que seria um modelo real top de linha. E o ritual de tira-amiga-da-fossa prosseguiu com um choppinho e uma esticadinha pra uma boite de funk dessas quaisquer na zona leste do Rio. Acho que era Via Show, sei la. Whatever.

Sei que a minha amiga não chegou a passar em casa, então logicamente foi com a mesma bolsa pra boite. E, como é de praxe, as bolsas são revistadas na entrada das boites. Mesmo que mal e porcamente revistadas, só se dá uma olhadinha lá pra ver se não tem nenhuma moça carregando uma AR-15 ou uma bomba atômica. Mas ao que parece, um consolo chama tanta atenção como qualquer objeto mortal. Daí a segurança pegou e disse (alto, muito alto): "Meu deeeus, o que é issoooo???". Logo todos os seguranças e as pessoas que esperavam na fila da revista faziam uma roda em torno da minha amiga e sua bolsa mary poppins, curiosíssimos com tamanha excentricidade. E ligavam e desligavam o objeto (era eletrônico, ainda por cima) que rebolava de um lado pro outro na mão das "autoridades" inconvenientes.

- É o que eu to pensando?, perguntou um segurança.

E minha amiga quase cavando um buraco no cu pra enfiar a cara:

- É. Por que? Não pode entrar com isso não?
- Poder, pode. Mas por qual motivo uma moça já sai de casa com um negócio desse?
- Pra garantir que a minha noite vai terminar bem de qualquer jeito. Agora dá licença?

Então ela enfiou o consolo na bolsa e entrou na boite com a cara pra cima, linda e loira, arrasando no funk. Por isso que eu gosto tanto da Mi. Mesmo com dor de cotovelo, a cara no chão e um consolo na bolsa, ela não perde a pose. Nunca.
posted by Arlequina @ 7:05 AM  
 



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