Essa é tão absurda quanto verídica e eu vou mandar pro Homem é Tudo Palhaço. Será que publicam?
Palhaço Bruce Lee
Certa feita, estava eu no ônibus empezinha pacientemente esperando minha casa aparecer na imensidão da avenida que a separa da faculdade e que não acaba nunca. No par de poltronas da minha frente estava um rapaz de uns 18 anos e uma senhora. Sendo que também em pé, do meu lado, estava um segundo rapaz que parecia ser coleguinha do que estava sentado. Quando a senhora se levantou, o cavalheiro gentilmente fez questão de me mostrar o lugar vago, preferindo que eu me acomodasse no banco que, segundo as leis do coletivo, por direito era dele, por estar mais próximo e por ter um amigo sentado do lado. Aceitei a fineza tão rara e sentei. Eis que a cortina abriu e o espetáculo começou.
Olha, eu não sou nenhum mulherão de parar o trânsito (muito menos quando estou voltando da faculdade meio-dia suada, descabelada e com fome). Mas basta a presença de um ser humano do sexo feminino pra despertar instintos tão babacas quanto primitivos de quem passou duas vezes na fila de adquirir testosterona. Então o palhaço sentado, que até então estava caladinho, resolveu ressaltar o quanto era macho, iniciando um diálogo interessantíssimo com o seu colega fino e educado. E eu no meio. Lamentando minha audição tão perfeita.
- Hoje eu tenho que ir lá na Treze... - É? - É. - Hum... - Vou lá resolver uma treta. - ... - Com a Fulaninha. Sabe a Fulaninha? - Não. - A Fulaninha pô... Ah, não importa. É uma guria aí que eu vou ter que dar umas porrada. Andou inventando umas coisas de mim. Vou lá resolver essa parada. - Hum. - Disseram pra eu deixar pra lá, que ela vai botar maior barreira da academia de judô dela atrás de mim. Mas num to nem aí. Pode vir quantos quiser que eu meto porrada em todo mundo. Começando pela Fulaninha. - Hehe.
*Notem como o amigo estava MUITO interessado na conversa, coitadinho.*
- Até porque em judô eu mando, você sabe. - Pois é. - O Fulaninho, meu professor, andou até dizendo pra eu pegar mais leve lá nas aulas... Ele disse que o pessoal ta reclamando que eu to batendo demais... Que desse jeito ele não vai poder botar ninguém pra treinar comigo. Acho que vou ter que mudar de academia. Vou pra alguma que o pessoal seja do meu nível... Se não é covardia mesmo, né? - Ah, é...
*Eu juro que deu vontade de dizer que já tinha entendido. Que do meu lado tinha um machão destemido que batia em todo mundo, inclusive em mulher. Que até entregava porrada em domicílio. Nossa, que impressionante. Agora por favor cala a boca porque você ta sendo ridículo e constrangendo o seu amigo, idiota. Mas ainda bem que não disse. Porque o melhor da apresentação ainda ia começar...*
- Cara, você soube do Cicrano??? - Soube... Teve uma treta com ele no Pré-Caju, não foi?
*Pausa pra explicação extra: Pré-Caju é uma prévia carnavalesca da minha cidade cujo objetivo é imitar tudo que há de pior no carnaval de Salvador. O evento conta com muitos foliões, trios elétricos, camarotes, Chiclete com Banana, espuma e mijo correndo livremente na avenida. Uma grande festa. Voltemos à história (que se passou bem na semana seguinte ao Pré-Caju).*
- Pois é, ele foi pro hospital! - Também, né, eu soube que tinham dois pra bater no cara... - Dois??? Que nada! Eram uns quinze! - Quinze? - Quinze! Eu tava lá do lado, vi tudo! Quando vi que tavam batendo no Cicrano eu me meti, mas a essa altura já tinham quebrado o nariz dele. Ah, mas eu me vinguei! Bati nos quinze! Em todos de uma vez!
*Acho que essa é uma cena que merece replay. Vejam de novo com bastante atenção.*
- Dois??? Que nada! Eram uns quinze! - Quinze? - Quinze! Eu tava lá do lado, vi tudo! Quando vi que tavam batendo no Cicrano eu me meti, mas a essa altura já tinham quebrado o nariz dele. Ah, mas eu me vinguei! Bati nos quinze! Em todos de uma vez!
*Ele bateu nos quinze. Em todos. De uma vez.*
- Não quis nem saber! Saí distribuindo murro, chute, cabeçada, tapa... Quando eu vi tavam os quinze no chão! - ... - E o pessoal dos camarotes gritando, me aplaudindo, dizendo “É isso aí!! Que cara foda!”. - Sei. - Saiu até no jornal!
AAAAAAAH NÃO!!! No jornal não!!! Aí é sacanagem! Só faltava ele dizer que a manchete foi: “Super testosterona mata quinze de uma vez com apenas um peteleco no Pré Caju”. Até essa parte do jornal eu estava até acreditando! Depois disso tive que levantar, mesmo faltando um pedação de avenida pra começar a aparecer minha casa. Já pensou se ele cisma comigo, levanta, tira a camisa e grita: “Que que é? Num ta gostando das minhas histórias não?? Vou te dar... porraaaada!”.
Deus me livre.
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