"Porque eu transformo água em vinho, chão em céu,
pau em pedra, cuspe em mel...
Pra mim não existe impossível...
Pastor João e a Igreja invisível"
(Raulzito e Marceleza)
Eu sei, caros leitores, que tenho andado omissa deste blog. Por minha culpa, minha tão grande culpa. Mas eu tenho um motivo muy nobre. Essa omissão se chama monografia. E minha monografia se chama (pelo menos o nome já ta pronto):
“Do Templo às Telas: Propagando o Cristianismo na Mídia Televisiva.” Eu sempre vi nêgo morrendo de horror quando chega a tão temida hora do TCC, mas tenho que confessar que estou me divertindo pra caralho. Pelo menos até agora, que tenho estudado a digníssima Igreja Universal do Reino de Deus – IURD (pq isso eu tb já aprendi, a gente bota a abreviação logo depois que digita o nome pela primeira vez pra não ficar repetindo ;p). Então... De tanto ver a programação da IURD, resolvi fazer um tópico chamado: “Templo x Televisão: o que se mostra e o que se omite.” Pra isso eu tive que IR a um templo da Universal, fazer o tal do estudo comparado. Qual é a diferença de ver os programas e ir à Igreja? Vou dar meu testemunho.
Quando cheguei lá já tava no meio do sermão. Um painel enorme anunciava o tema do dia: “O Clamor da Revolta”. No altar, além do pastor, tinha uma pedra e uma mesa cheia de bandejas cobertas. Pensei: “Obaaa! Depois do culto tem coquetel e cafezinho!” E o pastor (que devia ter a minha idade) falava sobre como as pessoas deveriam se revoltar contra tudo que há de ruim nas suas vidas, o diabo e os encostos, e tomar uma atitude, mas sem nunca confundir essa “revolta boa” com a rebeldia contra Deus. Ok, até aí nenhuma novidade. Uma verdadeira personificação de tudo que eu aprendi nos livros sobre técnicas de persuasão no discurso, um tema inspirado na “teologia da prosperidade” (aprendi esse termo tb. quem quiser saber o que é ou espera minha mono ou procura no wikipedia :p), pessoas exaltadas, de mãos levantadas e olhos fechados gritando que vão vencer os obstáculos e fazendo gestos de quem estava pisando com muita força em alguma coisa (depois entendi que elas pisavam “no diabo”)... Já estava pensando em desistir do tópico, porque afinal de contas, não tava vendo nada de diferente da televisão.
Mas eis que chega a hora TÃO esperada! A SACOLINHA! E aí que está A DIFERENÇA! Na televisão, os pastores-apresentadores da Universal não pedem UM CENTAVO, sabiam? Não tentam vender nada, nem livro, nem rosa ungida, nem solução imediata pra todos os seus problemas. Nadinha. Na TV, todos os programas têm um único objetivo: convencer as pessoas de ir à Igreja. Uma vez lá, você é contemplado com um sermão exaltado de mais de uma hora - que mais parece palestra de auto-ajuda – e no final é convidado a entrar numa fila e subir no altar pra receber a benção do pastor juntamente com um copo de azeite (?). Daí você vai caminhando em direção a única saída do altar e no meio joga o azeite na pedra (??), sendo que na ÚNICA saída já tem uma obreira (aquele pessoal que trabalha na Igreja) com os envelopes de dízimo na mão (aaaaaaah taaaá!). E no final, aquilo que eu achava ser um coquetel, era vinho (provavelmente vagabundo) e pedacinhos de pão de forma (??????????) muito parecido com a comunhão na Igreja Católica. Mas não me surpreendi. A Universal é uma mistura do que há de mais bizarro em todas as religiões do mundo mesmo (e isso tb tem nome. eu aprendi que se chama “sincretismo”. viu? to estudando direitinho ;P). Mas antes desse carnaval de rituais, o pastor ressalta que todo mundo já tinha ganhado algo de Deus naquela noite, portanto era a nossa (nossa?) vez de dar alguma coisa em troca. E que ele (o pastor) não ia olhar se a oferta fosse de um real, cem reais ou mil reais, mas Ele (Deus) saberia. Segundo o simpático pregador, pessoas que freqüentam o culto em outros horários costumam dar cinco mil, seis mil, até cinqüenta mil (!!!!), mas elas fazem isso porque Deus providenciou prosperidade na vida delas. Então não adianta tentar enganar a Deus (!!) porque Ele sabe muito bem quanto você pode dar. Erh... confesso: depois disso eu mesma QUASE abri a carteira e dei todos os cinco reais que lá havia. Porque Deus sabia quanto eu tinha na carteira, né... Enfim.
Assim que terminou o espetáculo, por coincidência, meu namorado me ligou. Então eu saí correndo pro lado de fora pra atender o cel. No que eu botei o pé na porta, brota um obreiro do meu lado dizendo “Não vai embora não que o pastor quer falar com a senhora.” Pensei “Ok. Vou ser exorcizada. Que legal.” Até porque eu era claramente uma estranha naquele ninho. No começo até tentei me juntar à multidão e agir discretamente, mas quando o “agir discretamete” começou a envolver gritos e gestos, resolvi sentar num cantinho e observar tudo na minha, porque mesmo que eu quisesse fingir aquela exaltação toda, o pastor não é bobo (BOBOS eles não são MESMO) e ia notar que era fingimento. Daí claro que chamei a atenção e tive que prestar satisfação sobre a minha presença no recinto. Voltei pra igreja e o pastor veio todo sorridente com aquela cara de candidato ao senado. “E aí, irmã, como está essa fé?”. Poderia ter tirado uma onda facilmente. A ONDA DO SÉCULO! Mas desperdicei essa oportunidade em prol da pesquisa científica. Daí falei a verdade. Ao contrário do que eu temia, o pastor foi super prestativo, me deu todas as informações que pedi (claro que não perguntei quanto Deus tinha ficado mais rico naquela noite) e ainda disse que eu poderia voltar quantas vezes quisesse. Ah, é? Então ta. Será que ele percebeu que eu fiquei tentada a abrir a carteira? Enfim. O importante é que eu descobri que a programação religiosa local da Record é gravada do Siqueira Campos domingo às dez da manhã. Então vou lá, aparecer na televisão, dar tchauzinho pra câmera e dizer “Mãe, to na maior concorrente da Globo!”. Portanto, aguardem cenas do próximo capitulo. Amém.