2.16.2008

 
Pessoa humana

Dancei a noite toda na praia com meus amigos, ao som do MARAVILHOSO show do Dudu Nobre. Hora de ir embora, passamos no banheiro químico (era isso ou o mar) pra dar aquela mijadinha básica, evitando o aperto no carro durante o caminho de casa. No que brota da areia uma menina muito (MUITO) bêbada, trôpega e equilibrista, pergunta se o banheiro está vago e se joga lá dentro. Meia hora depois ela sai, ainda mais bêbada do que entrou, creio eu. E preocupantemente desorientada.

Fui oferecer minha humilde ajuda a fim de acumular bastante ponto positivo com os Karma Cops de 2008, afinal de contas, esse ano vou precisar mais do que nunca. E deu nisso aí:

Eu: Oi, cadê seus amigos?
Equilibrista (apontando para o vazio): Tão alí, ó.
Eu: Mas não tem ninguém ali não.
Equilibrista: É que eles tão meio longe, mas eu vou achar.
Eu: Você sabe mesmo onde eles tão, né?
Equilibrista: Sei, sei. É só ir reto que eu acho.

Como se "ir reto" não fosse uma das habilidades mais difíceis de executar nessa situação.

Eu: Ok. Vai pela sombra e não fale com estranhos.

Então ela dá dois passos, volta e pergunta:

Equilibrista: Ei, você é de onde?
Eu: Daqui mesmo.
Equilibrista: Ahhh, mentira. As pessoas de Aracaju não costumam ser solícitas! Você me ajudou, se preocupou comigo! Só pode ser de outro lugar.

Essa poderia ser a hora em que eu seria avisada sobre a existência de uma câmera escondida e que estaria participando de uma pegadinha. De preferência daquelas que dão prêmios em dólares às pessoas boas e solícitas que ajudam bêbados na porta do banheiro. Ou ainda, ela poderia se revelar Jesus Cristo, que teria se disfarçado de bêbada para testar a bondade humana, como sempre acontece naqueles contos cristãos e nas peças do Ariano Suassuna.

Eu: Po, mas eu sou daqui mesmo.
Equilibrista: Ah, então você é de algum movimento né?

Sou! Sou do movimento dos anjos do banheiro químico. Descobriram minha identidade secreta. Oh, e agora?

Eu: Movimento?
Equilibrista: É. Movimento. Tipo MST, UJS... Porque uma pessoa boa e prestativa em Aracaju, só pode ser de um movimento desses!

Meu. Deus.

Eu: Não, não. Não sou de movimento, não. Na verdade não sou nem tão boa, nem tão prestativa.
Equilibrista: Claro que é! Você nem me conhece e se preocupou comigo!
Eu: Mas se eu soubesse que você é universitária de MST, UJS, DCE ou qualquer coisa dessas, eu te chutava pra dentro do banheiro químico e ainda mandava soldar a porta, querida.
Equilibrista: Aaaaaah mentira!!! Você é uma pessoa boa! Nem adianta disfarçar!
Eu: !
Equilibrista: Desculpa encher o saco. Mas é que eu me emociono muito quando encontro pessoas assim... humanas, sabe? Isso é tão raro no mundo. Tão raro...

Ok. Quem sou eu pra contrariar alguém que quer tanto ter fé na humanidade. Afinal de contas, isso também é tão raro.
posted by Arlequina @ 11:54 AM  
 



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