Pessoa humana
Dancei a noite toda na praia com meus amigos, ao som do MARAVILHOSO show do Dudu Nobre. Hora de ir embora, passamos no banheiro químico (era isso ou o mar) pra dar aquela mijadinha básica, evitando o aperto no carro durante o caminho de casa. No que brota da areia uma menina muito (MUITO) bêbada, trôpega e equilibrista, pergunta se o banheiro está vago e se joga lá dentro. Meia hora depois ela sai, ainda mais bêbada do que entrou, creio eu. E preocupantemente desorientada.
Fui oferecer minha humilde ajuda a fim de acumular bastante ponto positivo com os Karma Cops de 2008, afinal de contas, esse ano vou precisar mais do que nunca. E deu nisso aí:
Eu: Oi, cadê seus amigos? Equilibrista (apontando para o vazio): Tão alí, ó. Eu: Mas não tem ninguém ali não. Equilibrista: É que eles tão meio longe, mas eu vou achar. Eu: Você sabe mesmo onde eles tão, né? Equilibrista: Sei, sei. É só ir reto que eu acho.
Como se "ir reto" não fosse uma das habilidades mais difíceis de executar nessa situação.
Eu: Ok. Vai pela sombra e não fale com estranhos.
Então ela dá dois passos, volta e pergunta:
Equilibrista: Ei, você é de onde? Eu: Daqui mesmo. Equilibrista: Ahhh, mentira. As pessoas de Aracaju não costumam ser solícitas! Você me ajudou, se preocupou comigo! Só pode ser de outro lugar.
Essa poderia ser a hora em que eu seria avisada sobre a existência de uma câmera escondida e que estaria participando de uma pegadinha. De preferência daquelas que dão prêmios em dólares às pessoas boas e solícitas que ajudam bêbados na porta do banheiro. Ou ainda, ela poderia se revelar Jesus Cristo, que teria se disfarçado de bêbada para testar a bondade humana, como sempre acontece naqueles contos cristãos e nas peças do Ariano Suassuna.
Eu: Po, mas eu sou daqui mesmo. Equilibrista: Ah, então você é de algum movimento né?
Sou! Sou do movimento dos anjos do banheiro químico. Descobriram minha identidade secreta. Oh, e agora?
Eu: Movimento? Equilibrista: É. Movimento. Tipo MST, UJS... Porque uma pessoa boa e prestativa em Aracaju, só pode ser de um movimento desses!
Meu. Deus.
Eu: Não, não. Não sou de movimento, não. Na verdade não sou nem tão boa, nem tão prestativa. Equilibrista: Claro que é! Você nem me conhece e se preocupou comigo! Eu: Mas se eu soubesse que você é universitária de MST, UJS, DCE ou qualquer coisa dessas, eu te chutava pra dentro do banheiro químico e ainda mandava soldar a porta, querida. Equilibrista: Aaaaaah mentira!!! Você é uma pessoa boa! Nem adianta disfarçar! Eu: ! Equilibrista: Desculpa encher o saco. Mas é que eu me emociono muito quando encontro pessoas assim... humanas, sabe? Isso é tão raro no mundo. Tão raro...
Ok. Quem sou eu pra contrariar alguém que quer tanto ter fé na humanidade. Afinal de contas, isso também é tão raro.
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