Q!Hoje estava caminhando na calçada com a cabeça latejante e muito ódio no coração. Mas
DEUS teve piedade de sua filha tão estressada e mandou um anjo encarregado da missão de desviar momentaneamente minha atenção para o
absurdo do dia.
Na rua, enfileiravam-se milhares de carros ansiosos para a abertura do semáforo, enquanto eu caminhava na liberdade das minhas pernas no sentido contrário. Nos bancos da frente de um carro, um casal discutia freneticamente, chamando a atenção da avenida inteira. Quando de repente, me abre uma janela do banco traseiro DESSE MESMO VEÍCULO e salta uma cara masculina aparentemente normal, olhando pra mim. Então visualizem a cena: trânsito engarrafado, carro parado, casal discutindo na frente, cabeça pra fora no banco de trás que me diz:
- Tá sumida, você, né??
- Anh?
- Nunca mais apareceu...
????????
Percebam que isso não tinha a menor cara de cantada. O rapaz não fez cara de tarado, não fez "psiu", não tentou fazer qualquer voz sexy (ou aquele naipe de voz que alguns aborígenes ainda acreditam que seduzem alguém). A circunstância, inclusive, não favorecia qualquer cantada. O cara estava dentro dum carro parado num semáforo na companhia de um casal que discutia escandalosamente. Meu cérebro só conseguiu maquinar que aquele era um conhecido meu extremamente simpático, que fez questão de abrir o vidro do carro, a despeito de todo contexto desfavorável, só pra me cumprimentar. E eu, alma sebosa e individualista, não conseguia reconhece-lo. Nessas horas, apelo pra sinceridade.
- Desculpa, mas eu te conheço de onde?
- De lá do Clube do Constâncio, ué!
!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bem, é certo que isso faz muito mais (ou diria "menos?") sentido pra quem mora em Aracaju e sabe o que é o Clube do Constâncio. Mas tá ligado a Grande Família? Tá ligado o Paivence, o clube do Augustinho? Então. O Constâncio é tipo isso, só que muito, MUITO pior. Seria algo parecido com um baile funk carioca, mas com axé, forró e sem o glamour de estar na moda. Antes que eu pensasse em ter qualquer reação, o sinal abriu, o motorista pisou no acelerador com a mesma fúria que expressava na discussão com sua provável cônjuge e o maluco do banco de trás botou não só a cabeça, mas a metade do corpo pra fora e gritou (decepcionadíssimo):
- Eu sou o Ruy, pôxa!!!
Minha nossa senhora dos sanatórios! Por que esse tipo de coisa tem que acontecer comigo? Somente comigo?? E pior que o maluco foi tão convincente que por alguns milésimos de segundo cogitei a hipótese de ter desenvolvido uma dupla personalidade que se diverte fazendo amizades no Constâncio. No estress que eu tô, é bem capaz...
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Outra versão para o post de hoje:
Cheguei em casa com a cabeça latejante e muito ódio no coração. Mas abri meu blog pra contar a história do maluco do Constâncio e me deparei com isso nos comentários do texto anterior:
Minha amiga me perguntou:
-Já leu "O caçador de pipas"?
-não
-muito bom, chorei muito
-Já leu "Beijo de Arlequim"?
-não, nem ouvi falar
-muito bom, eu rio muito.
Parabéns Arlequina!!!
Adoro isso aqui.
Bjs
Elaine | 02.26.08 - 4:24 pm | # Seja lá quem for Elaine, ela não tem idéia do quanto salvou meu dia. Meu dia que foi a gota d'água num mar gigante de estress causado por essa insistência de querer seguir uma suposta vocação de fazer as pessoas rirem, e a mesmo tempo me recusar a ser uma palhaça. Mas saber que pessoas gostam do que eu faço me dá sempre vontade de fazer mais e maior, mesmo me deparando com algumas decepções tão desestimulantes que me dão vontade de pintar o cabelo de castanho e estudar pra fazer concurso público. Enfim, vocês não têm nada com isso e aqui não é lugar de chorar mágoa. Quando eu finalmente conseguir rir de tudo que tá acontecendo na minha vida agora, juro que conto pra vocês, respeitável público.
Até lá, obrigada MESMO pela presença. E voltem sempre.