4.15.2008

 

Ele é um especialista em diagnósticos capaz de descobrir a cor da calcinha que a sua mãe estava usando durante a sua concepção, só de olhar a radiografia do seu dedo mindinho. E faz o possível pra chegar a essa conclusão sem precisar ter o menor contato com você. Ele não faz perguntas pros pacientes e tampouco lê o histórico médico de ninguém porque acha que é inútil. Afinal de contas, ele baseia a sua lógica em uma única verdade: everybody lies. Everybody, principalmente os seus pacientes moribundos. Já chegou a prescrever cigarro pra um doente. "Mas, doutor, cigarro não vicia? Não agride o corpo?". "Qualquer remédio que eu te receitar vai viciar e agredir o seu corpo. A diferença é que cigarro custa mais barato e eu não vou precisar ver a sua cara todo mês pra te dar uma prescrição nova. Todos saímos ganhando." E de vício ele entende. Não satisfeito em ser dependente de Vicodin, um analgésico fortíssimo composto de morfina, Dr. House já chegou a fingir que tem câncer terminal, deixando seus colegas de trabalho loucos de preocupação, só pra ser cobaia no teste de uma nova droga pra aliviar a dor de vítimas de tumores malignos. A única preocupação da vida do Dr. House é descobrir doenças misteriosas e salvar seus pacientes, custe o que custar. Tipo assim... custe o que custar MESMO. Ele mente, trapaceia, engana a direção do hospital, obriga a sua equipe a vasculhar a casa dos doentes internados sem autorização de ninguém, toma processo (e de vez em quando toma até umas porradas) de pais e mães desesperados, faz exames invasivos, cirurgia sem anestesia, já chegou até a injetar sangue contaminado em si mesmo só pra ter certeza de que o paciente não estava fingindo os sintomas. Dr. House é essa mula inconseqüente porque trata os doentes como meras embalagens que contém o verdadeiro desafio que o interessa: a doença. Se você olhar com muita atenção, vai perceber que ele de vez em quando deixa escapar um pinguinho de sentimento humano, mas na maioria dos casos, Dr. House funciona bem porque faz de tudo para funcionar como uma máquina. Objetividade acima de todas as coisas.

Órfão de Seinfeld e as garotas Gilmore, o meu imaginário comemora a recém-descoberta de um novo amigo: Dr. Gregory House. O meu encontro diário com esse médico monstro tornou-se tão necessário pra mim quanto o Vicodin é pra ele. Tenho muito ódio quando ele passa dos limites da insensibilidade e maltrata os outros just for fun. Tenho muita pena quando ele acaba vivendo uma situação que o obriga a encarar o verme solitário que ele é. Tenho muita vontade de amarrar ele numa cadeira e encher ele de beijo e carinho (porque só amarrando pra conseguir obrigar o Dr. House a receber qualquer contato humano que seja).Tenho crises de risos com as tiradas sarcásticas que ele sai disparando em todas as direções. Tenho momentos de reflexão tentando entender a maneira fascinante como ele enxerga a humanidade e como a humanidade o enxerga. Adoro quando o ego dele toma tapa na cara da equipe, dos pacientes, da chefe, da ex-mulher e do seu melhor e único amigo Dr. Wilson. Inclusive, foi Dr. Wilson o portador da verdade cruel que fez House implorar por morfina direto na veia: "Você não gosta de si mesmo. Mas você se admira. Você se agarra tanto no que te faz especial porque acha que é isso que faz de você um ótimo médico. Cresça, House. Ser infeliz não é o que faz de você melhor do que ninguém." Nesse dia, só o Vicodin não foi suficiente. Ele invadiu a sala da diretora do hospital implorando por uma injeção de morfina, alegando uma dor insuportável na sua perna aleijadinha. Dra Cuddy prontamente atendeu à súplica, fazendo com que o Dr. House dormisse feito um anjo nos braços do João Pestana... pra revelar no dia seguinte que ela não era maluca de injetar morfina num viciado, que aquilo era soro e o bestão caiu no velho conto do placebo. Rá!

Em pensar que tive tanta resistência pra começar a acompanhar aquilo que eu achava que era só mais uma série de hospital... É vero que a minha cultura inútil aumentou estrondosamente depois que comecei a acompanhar House. Hoje, por exemplo, sei que toda doença parece Lupus (But it's never Lupus...), que uma pessoa obesa nem sempre é uma gulosa preguiçosa (ela pode ser diabética ou ter a raríssima Síndrome de Cushing), que o primeiro exame que se faz pra descobrir toda sorte de doença é a ressonância magnética, mas por algum motivo ele nunca é confiável o suficiente, então o mais seguro a se fazer é a uma punção lombar (que dói pra cacete). Mas lá pro terceiro ou quarto episódio, você percebe que as doenças e o hospital são meros coadjuvantes desse show. A estrela do espetáculo é a complexidade das relações humanas e o medo constante de falhar, fraquejar, odiar e amar.

No meio da superficialidade da televisão, com um toque a mais de imbecilidade da cultura enlatada americana, eu poderia dizer que pago um pau pro criador desse personagem tão complexo e pros roteiristas que seguram o rojão lançando um episódio toda semana há quatro anos, sem perder a essência dessas histórias fantásticas com muita intensidade e pouquíssima pieguice. Mas eu pago um pau mesmo é pro Dr. House. Pago pau assim, como se ele fosse meu vizinho, como se ele fosse o plantonista ali do São Lucas, como se a qualquer momento eu pudesse ficar doente de alguma causa misteriosa, tivesse que correr pro hospital e ele estivesse lá pra me salvar. É aí que eu percebo que um personagem realmente me cativou e me lembro do quanto a fantasia televisiva pode ser poderosa e interferir diretamente na vida das pessoas com parafusos a menos que nem eu. Agora me vejo diante de alguém que está todos os dias na minha casa me fazendo repensar minha maneira de ver o mundo e as relações humanas. No mais, só posso dizer a ele aquilo que todo paciente curado tem vontade, mas quase nunca tem oportunidade, porque raramente o vê cara-a-cara durante ou depois do tratamento:

Thank you very much, Dr. House.

E ele provavelmente responderia: "Who the hell are you?? You know what? Nevermind... I don't care."

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House networking....

Ficou curioso? Entre pro fã clube você também. Eu baixo House aqui. Pra mim é melhor do que torrent porque minha conexão não é essas coisas todas. A vantagem é que vem mais rápido e o computador não fica pesado. A desvantagem é que só pode baixar um por um e tem que fazer o download de uma barra de navegação do megaupload, se não eles sempre dizem pra tentar mais tarde.

Aqui tem as melhores sacadas de cada um dos episódios, mas acho que não tem muita graça se você não é familiarizado com o perfil dos personagens. Ah, tá tudo em inglês.

E a propósito... me identifico com tudo. Com a exceção do último ítem, porque eu também sou o Wilson do meu próprio Wilson, portanto dou valor a ele sim. :P
posted by Arlequina @ 5:59 AM  
 



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