SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA(e essa é das grandes viu!)
Parte I - "Mas não era pra NY?"Ô seu moço, do disco voadorme leve com você pra onde você forÔ seu moço, mas não me deixe aquiEnquanto sei que temtanta estrela por aí...No começo era o Canadá, estudar inglês, três meses, presente de formatura do meu pai. Depois virou NY, estudar cinema, quatro meses, presente de formatura do meu pai. Depois virou desespero porque meu pai resolveu que não ia dar mais esse presente não. Aí passou a ser vousairdopaísdequalquerjeitoagoraessaporra e virou missão. Apelei pra parte da
famiglia que mora em Tacoma-WA. Vale qualquer coisa, vale ser imigrante ilegal, vale ser empregada doméstica, vale varrer chão e lavar prato, contanto que eu conseguisse ir embora daqui de qualquer jeito com o dinheiro que eu tinha juntado (e não era muito). Graças aos deuses, a parte da
famiglia que habita lá é uma parte responsável, que deu uma segurada e disse:
"Vem, mas vem pra ficar legal e fazer alguma coisa que preste!". Procuraram curso, procuraram emprego legalizado, me ofereceram casa, comida e calor humano e disseram: pronto, agora só depende de você. Meu pai achou bonita minha persistência e, comovido, disse "Se for pra estudar eu pago o curso". Ok, então são seis meses de Broadcasting Production no Bates Technical College. VIVA! Depois de muita briga com a burocracia na matrícula pra estrangeiro, passa essa fase e é a hora de levar meu passaporte pros representantes do Tio Sam carimbar.
Parte II - Meu nome não é Bin LadenTem que ser selado,Registrado, carimbadoAvaliado e rotuladoSe quiser voarPra lua a taxa é altaPro sol identidadeMas já pro seu fogueteViajar pelo universoÉ preciso meu carimboDando sim, sim, sim, sim...Pluct, plact zumNão vai a lugar nenhumMe disseram, mas achei que fosse exagero. Não era: ir pros EUA está mais difícil do que ir pra Lua. Tirar visto virou uma loteria maluca onde ninguém sabe o que conta de verdade. Dizem que é preciso provar que tem dinheiro pra bancar todos os custos da viagem e provar que tem vínculos fortes suficientes no Brasil pra voltar. Mas em verdade em verdade, ouvi tanta história BIZARRA sobre visto negado e concedido que percebi que a estratégia é não ter critério nenhum que a gente possa perceber. Talvez justamente pra evitar que nêgo chegue lá com tudo preparado na ponta da língua e de má fé, enfim. Em outras palavras: depende do bom humor do consul e da sua sorte. Pois eu não fui agraciada com nenhum dos dois. Depois de uma entrevista enorme, em inglês, no consulado do Rio de Janeiro, na qual a consulesa, simpaticíssima e enigmática, perguntou coisas estranhas como
"Então, você não quer ver o Mickey não?" (HEIN?), e
"Por que você quer continuar estudando Rádio e TV se você já se formou em Rádio e TV?" (ah, então já que eu me formei em RTV, deveria mesmo era estudar fisica quântica agora...), e por aí vai... No final ela me olha com uma cara sorridente, como se anunciasse que ganhei na megasena e fala:
"I'm sorry, but I won't give your visa today". Q!!!!!!!!!!!!! Quando eu disse
"May I ask why?" a resposta da consulesa foi
"If you want to visit your friend in Seattle, I encourage you to do. But you don't need to be a student to do that". Como assim, velho??? Turismo tudo bem, estudo não??? Não entendi a implicância. Não sei se ela achou que eu queria fazer turismo e tava fingindo que ia estudar... Mas por QUAL MOTIVO eu faria isso, sendo que as taxas de estudante são MUITO mais caras e a burocracia é estupidamente maior? Enfim, não consegui, não sei o motivo e fiquei arrasada.
Parte III - Arquivo confidencialQueiraNão diga que a vitória está perdidaPois é de batalha que se vive a vidaTente outra vez...Revoltei-me. E quando eu me revolto eu cismo. E quando eu cismo não desisto. Ariano é assim, foi deus que fez, não é minha culpa. Já que a verdade não deu certo, pensei em marcar outra entrevista e contar uma história mirabolante. Fui me aconselhar com
esse pessoal e contei minha
situation. Inclusive, compartilhada com vários outros frustrados que foram entrevistados pela mesma consulesa doida. Uma dessas pessoas, uma enviada DO CÉU, fez questão de ir no meu scrapbook e me dar um toque: de jeito nenhum mude a sua história. Mas por que? A consulesa fez anotações no computador enquanto te entrevistava? Fez. Então. Aquilo fica no sistema e em todos os consulados eles vão ter acesso, então não mente! Vai tranqüila e tenta de novo, mas não mude a história.
Como se não bastasse ter visto negado, ainda fico com um arquivo confidencial que só os consules podem ler e eu não faço a MENOR idéia do que tem lá. Maravilha. Ok, andiamo...
Parte IV - "Seis meses, hein!!"Mas olha vejam sóJá estou gostando de vocêsAventura como essa euNunca experimenteiO que eu queria mesmoEra ir com vocêsMas já que eu não possoBoa viagem até outra vezPluct, plact zumPode partir sem problema algum!!!Eles dizem que se o visto for recusado, é aconselhável esperar um ano pra tentar de novo. Um ano??? Tá maluco! E eu lá tenho um ano da minha vida pra gastar? Resolvi tentar de novo em Brasília, menos de um mês depois. Tava sem esperança, mas sempre fui doida pra conhecer Brasília e tenho uma irmã da
famiglia por lá, então na pior das hipóteses, seria um fim-de-semana divertido no Planalto. Aí chega o dia da segunda entrevista.
Enquanto eu tomo um chá de cadeira na embaixada de umas três hrs, só via gente indo pra fila do sedex! Ir pra fila do sedex significa que seu visto foi aprovado e você vai lá pagar uma taxa pra que eles te mandem o passaporte carimbado pelo Correio. E eu pensando
"Mas que isso? Hj é dia internacional de aprovação de visto??". Só vi uma menina (da minha idade inclusive e com o meu perfil mais ou menos) que foi recusada, mas tentei não ficar nervosa. Consegui fica calma MESMO, controladíssima. Qd chegou a minha vez, fui na pose, com toda segurança. Até pq já tinha chutado o pau da barraca. Aí chego no consul e ele digita o meu passaporte no computador e tchan, abre meu arquivo secreto que só eles vêem. Aí ele fez uma cara estranha e passou um tempão lendo e cutucando a mesa, parecendo intrigado. Claro que comecei a ficar nervosa. Então ele CHAMOU UM CARA, FECHOU O CANAL DE COMUNICAÇÃO (porque você não fica
face to face com o consul não. Tem um vidro separando e a comunicação é feita através de um fone pequenininho, tipo cadeia), MOSTROU PRO CARA O QUE TINHA NO COMPUTADOR e ficaram os dois CONVERSANDO sobre mim e sobre o que tinha escrito lá, na minha frente sem eu ouvir o que era! Obviamente o computador ficava virado pra ele, não pra mim. Imaginem! O QUE AQUELA MALUCA ESCREVEU DE MIM, VELHO???? Desmoronei! E o cara que ele chamou FICOU LÁ, parado, em pé, atrás dele, olhando a entrevista. Aí ele abriu o microfone e eu já tava com a perna tremendo, achando que ia sair escoltada pelo FBI! Então ele disse
"Já que vc fala inglês, vamos fazer a entrevista em inglês, ok?". E já na primeira pergunta, eu tava TÃO nervosa que não consegui falar coisa com coisa. Sério, não saía NADA. Aí ele ficou com pena e disse
"Ok, pode responder em português mesmo. Fica calma". E pra minha sorte, ele falava MUITO bem português, coisa rara nos consulados. Aí aos poucos fui ficando segura de novo. Ele me fez praticamente as mesmas perguntas que a consulesa do Rio fez (pelo menos as relevantes), e tudo que eu respondia ele olhava pro computador e lia alguma coisa (provavelmente pra ver se tinha alguma contradição). E toda hora trocava olhares enigmáticos com o colega dele lá atrás. E dedilhava a mesa. Perguntou o que eu ia fazer qd voltasse, o que eu esperava do curso, o que esperava da minha profissão... Aí depois de muito suspense, depois de muito ler o computador, cutucar a mesa e trocar olhares com o sei lá quem, ele perguntou quanto tempo eu queria ficar lá e eu respondi séria, olhando nos olhos dele:
"Seis meses". Aí ele ficou calado me encarando uns segundos e eu continuei encarando ele, seríssima. Aí ele disse
"Ok, eu vou te dar seu visto... mas POR SEIS MESES!!!!" e disse isso levantando o dedo como quem fala
"E nem ouse ficar mais, hein!" Nem sei que cara que eu fiz, mas enquanto ele me explicava os procedimentos, onde eu pagava qual taxa, que depois voltava nele, como agir na alfândega, ele parou no meio da explicação e disse:
"Tranqüila, seu visto foi aprovado!". Hahahah! E eu respondi
"Ah, to tranqüila, é que eu to muito feliz, só isso". Ele riu, eu ri, ele continuou falando, eu quis pular no pescoço dele e encher ele de beijo e abraço (até porque ele era LINDO), eu paguei as taxas, voltei lá, boa viagem, thank you very very much, bye bye Brazil!!!!!!
Foi assim.