Achei que não havia caído a ficha enquanto ainda estava em Aracaju, por não ter tido nenhuma crise de pânico, ansiedade ou sequer de choro. Pensei que choraria no aeroporto, quando me despedisse da minha mãe e de alguns amigos que foram me levar. Não chorei. Então tive certeza de que choraria no avião indo pro Rio. Não chorei. Chegando ao Rio fui surpreendida pela minha tia-avó-mãe, meu primo-irmão e meu irmão-irmão-mesmo. Conversaram, desejaram boa sorte, abraçaram, entrei no embarque internacional e “aaah, agora sim vou chorar”. Não. Dormi feito um anjo praticamente o vôo inteiro do Rio pra Atlanta, sem precisar nem cogitar a possibilidade de botar a mão no meu estoque de calmante sempre ao alcance.
Então passei pela migra. Passei tranqüila como quem não está fazendo nada de errado e tensa como quem espera ser julgada por pessoas que partem do pressuposto de que sou uma prostituta contrabandista terrorista. Não fui. Acho, inclusive, que o cônsules americanos que trabalham no Brasil deveriam fazer um curso de educação e simpatia com os oficiais da imigração do aeroporto de Atlanta. O entrevistador ainda fez uma gracinha dizendo que eu deveria ser modelo (q!) e as moças negras-com-cara-de-filme que fazem o re-checkin elogiaram a cor do meu cabelo e, quando eu virei de costas, juropordeus que ouvi uma delas dizendo “Oh, yeah, she IS a latin” (Q!!). Fui no balcão de informação e o atendente, quando soube que eu era brasileira, abriu um sorrisão e disse "Oh, I'm sorry about this weather. We should have a beautiful sunshine to you!" (Q!!!!!). Já tinha ouvido falar que brasileira rocks around here, mas não sabia que era pra levar TÃO a sério. Ok, fico eu com meu estereótipo físico que eles devem achar típico de brasileira (leia-se bunda enorme que eu odeio), mas por enquanto extremamente confortável e até divertido.
E agora to aqui, recarregando o computador, esperando o vôo que parte pra Seattle onde Danilo vai me buscar. E não chorei. Cogitei a possibilidade de ter me transformado em pedra de tanto assistir House. Mas não. Não é um não-choro de pessoa insensível que não vai sentir falta dos MARAVILHOSOS momentos que passou na cidade onde conheceu os MELHORES AMIGOS DO MUNDO. Não é isso.
É um não-choro de quem finalmente saiu de Aracaju, de quem finalmente saiu da casa do pai com a cabeça erguida e com mérito próprio, de quem finalmente sente que está virando gente grande de verdade, de quem finalmente vai tomar as rédeas da própria vida. É um não-choro de quem está começando a fase pra qual se preparou todos esses 25 anos. Um não-choro de quem sabe muito bem que está preparada. Um não-choro de alívio. Um não-choro de finalmente.
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