9.08.2008

 
Amor verdadeiro

Essa é uma história real que aconteceu com a amiga de uma amiga minha. Vamos chamá-la de Jurema. Jurema se mudou recentemente pra outra cidade onde ela não conhece praticamente ninguém. Logo de cara arrumou um namorado. Não é uma coisa bem típica dela, mas sabe como é... O cara é GATO, paparica ela até não poder mais, leva pra jantar, diz coisas fofinhas e sempre tem cerveja em casa. Ela tava lá sozinha mesmo, então não ia matar ter alguém idolatrando ela, satisfazendo caprichos e ajudando com a adaptação à vida nova. Menos de um mês de namoro depois, já tava rolando até I love you, mas tudo bem, Jurema sabe que aquele povo adora dizer um I love you e, considerando que o cara era meio carente, isso não é muito surpreendente. E nem tão emocionante assim.

Certa feita, Jurema pediu autorização do namorado pra limpar o computador dele. Porque o PC era tipo a vida dele: bagunçado, com um monte de porta aberta e cheio de vírus. Aí ele deixou. No meio da limpeza, ela achou alguns arquivos de Word com o nome da ex-namorada dele. O diabinho disse num ouvido "Po, só uma lidinha, não é nada demais... Afinal, se ele sabia que você ia futucar o PC todo e deixou os arquivos aí, então ele nem liga...". No outro ouvido, o anjinho disse: "Tá esperando o quê? Lê logo esta porra!". E Jurema leu. Realmente, não era nada demais. Só umas cartinhas melodramáticas escritas no fim do namoro, falando sobre como ela tinha mostrado pra ele o que era o amor verdadeiro, que ele nunca mais amaria ninguém daquele jeito blábláblá melodramamelodramamelodrama blá blá. Jurema sabia que o fim do namoro tinha sido complicado. Um lance meio bizarro mesmo. Parece que a menina começou a namorar com outro cara antes de terminar com ele... Daí os amigos dele ficaram sabendo... Enfim. Não importa. O que importa é que Jurema pensou: "Otário. Você gastando seus dedos escrevendo isso tudo e a menina já tava até com outro... tsc tsc tsc".

Aí beleza. Dia desses, eles tiveram uma discussão bem feia por uma coisa muito horrorenda que ele fez e que não vem ao caso. Jurema ficou tão puta da vida que, no meio do estress, surtou e disse que não ia mais namorar com ele não beijo tchau. No dia seginte, ela acordou mais calma, com uma ressaca moral gigante. Porque, por mais horrorenda que fosse a coisa, não valia um fim de namoro. E aquilo não era jeito de acabar com alguém que vinha feito tanta coisa boa por ela... Jurema (que, apesar de não parecer, tem sentimentos) se sentiu a pessoa mais malvada do mundo.

Então ela estava lá pensando no que fazer quando de repente ele aparece na casa dela com os olhos vermelhos, a cara inchada, trazendo uma sacola na mão com todas as coisas de Jurema que tavam lá na casa dele. Oooooô dó! Com o coração apertado, Jurema pegou a sacola e viu que, além dos seus pertences, havia uma carta. Então ela abre a carta e...

Gente, era SIMPLESMENTE UMA DAS CARTAS QUE ELE ESCREVEU PRA EX! E, segundo Jurema, não era o mesmo estilo literário, nem nada... era tipo assim... A MESMA CARTA! Dizendo pra Jurema que ELA tinha mostrado a ele o que era amor verdadeiro, que nunca mais ele amaria ninguém DAQUELE jeito e blá. A única diferença era que essa começava com "Dear Jurema" ao invés de "Dear Fulana". Ela não sabia se ria, se chorava, se ficava com ódio, se saía correndo, se chamava o hospício, se achava cafagestagem, se achava ridículo, se achava patético, se ficava com pena. E ela disse que nem conseguia dizer pra ele que sabia que a porra da carta era reciclada. Não por receio de admtir que leu no PC dele, mas por piedade. Sabe-se lá o que esse povo é capaz de fazer quando é flagrado numa situação ridícula dessa! Se fosse no Japão o cara se matava de vergonha. Aqui, ou melhor, lá onde Jurema tá, tava arriscado dele sacar uma metralhadora do bolso e matar Jurema, os vizinhos dela, as crianças da escolinha do outro lado da rua e fugir pro México. Então Jurema resolveu ignorar e seguir o namoro.

Até que ontem eles discutiram de novo e ele anunciou: "Estou tão triste... acho que vou te escrever outra carta...". E Jurema só respondeu: "Não! Pelamor de deus! Outra carta não!! Tudo menos outra carta!! Eu paro de brigar AGORA, tá tudo bem, vamos fazer as pazes, não escreva outra carta, naaaaão!"

E agora Jurema espera, aflita, o reencontro pra fazer as pazes. Rezando pra todos os deuses que ele não apareça com outra carta reciclada. Porque dessa vez ela vai ter que, no mínimo, dar uma gargalhada.

posted by Arlequina @ 9:08 PM  
 



1 Comments:
  • At 8:19 AM, Anonymous Anônimo said…

    o que eu estava procurando, obrigado

     
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