1.24.2009

 
Hi, my name is George Costanza and I freak out for no reason

Todo mundo do mundo todo sabe que eu sou apaixonada por Seinfeld e que aquela série sobre o nada narra perfeitamente como é o nada da minha vida. Na maioria das vezes sou implicante e metida à justiceira feito Elaine, pouquíssimas vezes sou confiante e engraçada que nem o Jerry, menos vezes ainda sou desencanada e boa praça feito Kramer. Mas os piores episódios do meu sitcom pessoal acontecem quando eu sou o George.

George é um baixinho feio e neurótico que adora comer - principalmente se for de graça -, faz piadas que ninguém acha graça e tem certeza absoluta de que é um desastre com mulheres e com qualquer tipo de relação humana que não seja com os amigos dele. E essa certeza faz com que ele se precipite, surte e estrague tudo de minimamente interessante que encontre no caminho. Exemplificando. Tem um episódio muito bom que ele sai com uma mulher gatinha que por um motivo que eu não entendo (nem ele) gosta do encontro, ri, se diverte. Aí quando vai deixá-la em casa, a nega convida ele pra subir e tomar um café. No que George responde "Ah, não tomo café de noite. Me deixa acordado." Imediatamente ele se dá conta da merda que fez, mas já é tarde. No dia seguinte ele tá todo surtado na casa do Jerry. Querendo ligar pra ela, mas tem certeza que ela o acha um idiota. Querendo ligar pra ela, mas sem saber se é certo ligar logo no dia seguinte depois de um encontro porque ela pode achá-lo carente. Querendo ligar pra ela, mas sem saber o que dizer depois de ter estupidamente recusado uns amassos no apartamento dela. George, a essa altura, tem certeza absoluta de que está perdidamente apaixonado por essa mulher. Finalmente ele liga. Ela não atende. Ele deixa uma mensagem besta na secretária eletrônica (nos anos 90 não tinha celular). Aí ele liga de novo pra tentar consertar e deixa uma mensagem mais idiota ainda. Espera a mulher ligar de volta e nada. Passa um dia, dois dias e nada. Ele fica puto e liga mais uma vez perguntando porque ela não retornou. Depois liga mais uma vez perguntando quem você pensa que é, vagabunda arrogante, afinal eu não mereço ser esnobado só porque não gosto de café. Depois de ligar mais de trinta vezes deixando mensagens cada vez mais surtadas, um belo dia George recebe uma ligação. Da mulher. Dizendo que teve que fazer uma viagem inesperada, mas que estaria de volta à cidade amanhã e mal podia esperar pra se encontrar com ele de novo. tóin.

No resto do episódio Geroge e Jerry tentam roubar a fita da secretária eletrônica dela antes que ela ouça as mensagens insanas, mas paremos por aqui. Acho que isso já é o suficiente pra eu ilustrar o que acontece nos meus dias de George Costanza. Nesses dias que eu sou feia, gorda, pequena, careca, sem nenhuma classe ou graça, eu não consigo imaginar o que leva certas pessoas a gostarem de mim. Daí despiroco e faço coisas completamente sem noção porque dentro da minha neurose, todas essas pessoas legais na verdade fingem que me amam, mas no fundo só querem tirar vantagem da minha cara de trouxa. Pessoas desgraçadas, quem elas pensam que são? Então minhas idéias conspiram teorias que só fazem sentido dentro da minha cabeça neurótica. Por exemplo. Se eu ligo e certa pessoa não me atende, é lógico que ela não quis me atender de propósito. Ela quer me testar, ver se eu ligo de novo. Não vou ligar. Aí ligo. A pessoa não atende de novo. Aí começo a ficar puta. Não ligo trinta vezes que nem o George, mas vira uma idéia fixa (aaaah minhas idéias fixas). Durante vinte e quatro horas por dia, parte do meu cérebro funciona exclusivamente pra remoer uma única questão: por que essa pessoa X estaria me desprezando? Planejo vingança. Cogito hipóteses. Ela não me atende porque não quer me dar corda, quer manter na casualidade. Ok, mas eu não quero casar e ter filhos. Será que dei a impressão de que queria? Essa pessoa deve me achar carente demais. É isso. Mas não sou. Ou ela me acha confiante demais e tá com medo. Será que foi aquela piada mal feita que eu deixei escapar? Será que foi porque eu boto ketchup na comida? Ou será que eu bebi demais naquela noite? Tem gente que não gosta de mulher que bebe demais. Fodam-se eles todos, cada uma. Sou eu que pago minha bebida, bebo o que eu quiser. Ou será que comi demais? Acho que to gorda. Meu deus, to uma baleia, ninguém me quer.

Aí a pessoa me liga de volta no dia seguinte dizendo que o jacaré comeu o telefone, mas agora deu um jeito de retornar minhas ligações porque não pára de pensar em mim. Aí a Elaine Benes que há no meu cérebro se auto-ativa e pensa "Como assim 'não pára de pensar em mim'? Eu hein, foi só um encontro, eu nem te conheço direito. Argh, que pessoa mais carente, quero mais não." E não quero mesmo.

Eu sei, sou bizarra, complexada, neurótica, nojentinha e arrogante. Culpo meus pais, um ex e meu melhor amigo. E Seinfeld, claro.
posted by Arlequina @ 4:10 AM  
 



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