Joy of livingDe repente a vida foi feita pra ser sem graça mesmo. Pode ser que tudo seja só um teste de paciência. As coisas não são tão divertidas assim, as emoções nem são tão fortes assim e as pessoas... argh, as pessoas são insuportavelmente idiotas assim mesmo. Tudo que for diferente disso vai depender da minha capacidade de agir como o cara de
Peixe Grande, esperando o que a minha cabeça vai criar com aquele material pra transformar o contexto do momento numa história super-interessante que faça meus dias valerem a pena.
E o pior é quando eu insisto no que deveria ser meramente um momento. Sempre acaba passando, mas até eu aceitar que foi só um momento - não a porta da esperança pra acabar com todo o tédio que me cerca - até eu aceitar isso, meu deus do céu, que drama que é. Mas às vezes eu consigo agarrar o maldito momento e fico segurando. Pior ainda. Destruo todo o brilho e beleza da efemeridade, dragando o que deveria ter sido um segundo de deslumbre pra a eternidade emaranhada de memórias de momentos que foram usados até bem depois do prazo de validade.
Tudo que vira rotina fica insuportavelmente chato. Insuportavelmente.
Falando nisso, lembrei agora da agonia que sinto quando vou visitar a minha família no antigo bairro de subúrbio que eu vivi os primeiros (e mais tediosos) 11 anos da minha vida. Quero dizer, a minha família é um amor, nem é disso que falo. Falo de todo mundo, de todo o bairro, de todo resto. Tudo naquele lugar parece ser uma exaltação profunda à mediocridade e à depressão. Saudade da família existe, mas nunca saudade de estar ali. Uma semana lá e começo a passar mal vendo pessoas que têm EXATAMENTE a mesma rotina que tinham desde ANTES de eu nascer! Eu, ser humano sofrivelmente inquieto que não agüenta uma semana de rotina sem achar que a minha vida acabou num poço de previsibilidade e angústia, fico imaginando qual seria a fórmula pra ser feliz dentro de uma engrenagem que continua se mexendo exactamente do mesmo jeito por anos, muitos anos, muitos mais anos do que eu tenho. As novidades por lá acontecem quando alguém nasce e quando alguém morre. Fora isso, é tudo o mesmo. GENTE, COMO PODE VIVER ASSIM???
E as pessoas... as pessoas são um tédio à parte. Agora falo de todas as pessoas do mundo, todas elas. As pessoas estão sempre ocupadas demais sendo sem graça. Minha cabeça até que consegue trabalhar muito bem fantasiando momentos, mas raramente fantasiando pessoas. Sorte de quem tem um pouco de romantismo nos olhos pra enxergar as pessoas melhores do que elas são e até jurar de pé junto que elas se importam mais com você do que elas realmente se importam. Eu não tenho. Não sou cristã nem kardecista nem otimista. Pra mim você é o que é. Se é só isso, paciência, vai ficar sendo só isso mesmo. A não ser que você venha trazido por um dos meus preciosos momentos. Aí sim, pode ser que você seja a perfeição, o príncipe encantado, a irmã reencarnada, a alma gêmea, tudo o que faltava na minha vida. Mas passa rapidão.
Não tem grandes emoções, não tem grandes amigos, não tem grandes aprendizados, não tem grandes aventuras, não tem grandes festas, não tem grandes nada. É tudo pequeno, superficial, passageiro, oco. O que não for assim, é mentira.
A minha vida é uma mentira atrás da outra.
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E é nesse clima que saúdo o novo ano que começa: CHEERS!