Outra sobre o Magoo's
Grave Digger é outra figura que é freguês do Magoo's. Ele é tão gente fina e pop lá que sabe o nome de todo mundo (até o meu, que não consigo decorar o dele de jeito algum e por isso chamo de Grave Digger). Traduzindo, o apelido significa coveiro. E ele não é tosco. É coveiro mesmo. Mentira. Ele é agente funerário mas, como também nunca lembro como fala "agente funerário" em inglês, Grave Digger é mais fácil. Enfim.
Grave Digger vai direto do trabalho pro Magoo's e é engraçado porque ele tá sempre todo embecado, terno e gravata e tudo mais. Mas nesse dia ele tava de folga e veio de não sei da onde, com roupa normal e previamente bêbado. Encostou na mesa pra fazer o social e dois minutos depois tava falando de um livro que ele tava lendo de um fulano de tal que é sociólogo. Daí fiquei sabendo que o livro era sobre como o homem europeu roubou as terras do nativo-americano e transformou todo o continente numa feira. E é por isso que quando o Grave Digger terminar de ler o livro, ele vai parar de comprar no Safe Way (uma rede de supermercado gigante que tem aqui), vai começar a plantar em casa e criar animais (?) porque o negócio é produzir a própria comida. E somente o Grave Digger mesmo pra chegar num boteco com uma conversa dessa e NÃO SER CHATO. Eu tava achando engraçadíssimo ele dizendo que a culpa de todas as mazelas do mundo era do homem branco e que ele odiava o homem branco do fundo da alma. E eu perguntei se ele já tinha realizado o quanto ele era branco e ele disse que tudo bem, porque ele se odiava também porque ele é branco e compra no Safe Way, mas pelo menos a segunda parte será resolvida em breve. Aí vem a namorada do Grave Digger (igualmente simpaticíssima) e, sóbria, leva ele da conversa. Aaaaah. :(
Sei que a cada mesa que o Grave Digger fazia a social, ele ia compartilhando a nova filosofia de vida dele. Notei que quanto mais ele bebia mais o livro ficava interessante. No fim da noite (que aqui acontece ridiculamente às duas da manhã) ele tava berrando "Fuck land ownership! Fuck white man! Fuck Safe Way! Fuck you all!", enquanto a namorada, rindo loucamente, o arrastava pelo braço pra fora do bar.
Na noite seguinte (no momento que o mala do texto abaixo estava sentado na MINHA mesa, inclusive), o Grave Digger chega no Magoo's direto do trabalho: de terno e sóbrio. E foi logo se desculpar por ter "enchido o nosso saco." Oooooô gente... Eu não sei se ele ficou convencido, mas falei sério que na verdade ele foi um consolo pra mim. Porque certos livros e filmes deveriam cair na minha vida com a advertência "não consumir com álcool." Se eu me empolgo com alguma coisa e viajo naquilo, bebo e acho que tenho a obrigação moral de compartilhar COM O MUNDO a última revolução da minha vida. E - o que é pior - tenho plena certeza absoluta de que a galera ta super mega interessada. Lembro que quando li o Guia do Mochileiro das Galáxias, meu deus do céu, só deu isso na festa de despedida do Danilo. De vez em quando acontece com Álvaro de Campos também, ou com algum filme do Woody Allen. Com House aconteceu umas duas vezes. E quando eu tava fazendo monografia??? Afffe!! Enfim. No dia seguinte tenho a plena sensação de que eu sou a pessoa mais chata do universo e que nunca mais na vida vou ser convidada pra uma mesa de bar, quiçá uma festa. Aí vem o Grave Digger e me faz ver que as pessoas que gostam de você nem são tão exigentes assim e podem até achar bonitinha a sua fixação na nova descoberta.
Tudo bem que eu não sou gente fina e popular feito o Grave Digger. Mas vocês me amam mesmo assim. Né?
:)
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