6.11.2009

 


Então, voltei.



É um clima estranho. Bom, muito bom, mas estranho. Parece que o Rio se preparou pra minha chegada: limpou a casa, fez a cama, comprou o que eu gosto de comer no café-da-manhã, deu uma ligada no ar condicionado e até mandou buscar uns amigos de Aracaju pra essa festa de boas vindas que já dura há três semanas. Então tenho feito turismo pra acompanhar as visitas: Santa Teresa, Pão-de-Açúcar, Urca, Lapa, Jardim Botânico e todas aquelas maravilhas do Leme ao Pontal que o Tim Maia fala na música. Imagine que até em hotel em Copacabana eu dormi! Me passo por turista fácil, principalmente devido ao meu péssimo senso de direção e meu sotaque que não sabe se é nordestino ou carioca. Mas ao mesmo tempo que descubro partes da cidade que nunca conheci na minha infância passada num subúrbio da Zona Norte, sinto um prazer enorme em mostrar tudo pra quem chega. E me sinto em casa.



Noutro dia, nessas ironias bem clássicas da minha existência, estava paquerando um cara LIN-DO. Quando ele veio falar comigo, tinha sotaque. Perguntei de onde era e, advinha só, era americano. Disse pra sair pra lá, gringo, que já cumpri minha cota de EUA nessa vida, que detesto americano, que esse povo é tudo louco e agora só quero saber de Brasil, Brasil, Brasil e Brasil. Ao invés de se sentir ofendido com a minha piada horrivelmente sem noção, ele achou bonito descobrir que eu não era uma caça-gringo (talvez uma das únicas da festa) e me deu ainda mais assunto. Aí eu disse que, só porque ele era MUITO simpático e falava português, ia fingir que ele era alemão. ;) Acabamos ficando de brodagem o final de semana todo. Ele chegou ao Rio há dois meses e tá planejando ficar aqui um ano. E a parte mais interessante de estar me aproximando dessa figura é que eu me vejo como eu era quando cheguei na terra dele. Aquele olhar de criança descobrindo um monte de coisa nova, comparações, saudade de casa, vontade de ficar mais, carência, ansiedade de fazer amigos, de arrumar emprego, de aprender a língua. Língua. O português dele é MUITO bom, mas tem exactamente o mesmo tipo de falha do meu inglês: a de pensar no idioma materna e traduzir pro idioma do outro. E ele fica defensivo quando é corrigido, que nem eu ficava. É um tipo de "Ai meu deus, fui pego no flagra sacaneando a língua deles. E agora, o que faço? Vou inventar uma desculpa. Ai que vergonha!" Por exemplo: noutro dia ele falou uma frase que terminava com "sair por o fundo." Achei bonitinho e ri. Aí primeiro ele quis saber porque eu estava rindo. Depois disse pra não corrigi-lo naquele dia porque estava cansado e sem paciência. Depois quis saber sim o que ele tinha falado de errado. Aí eu respondi que dava pra entender, mas faria mais sentido dizer PELO fundo. Então ele pensou, pensou, e disse "Minha professora era do sul do Brasil. Deve ser alguma coisa do sotaque, lá eles falam assim." Rá! :)



E nessa mesma semana eu vi Budapeste. Não quero nem ler o livro pra não estragar o filme. Achei LINDO! Pra quem ainda não sabe, é justamente sobre um cara que muda radicalmente a vida indo pra outro país e aprendendo outra língua e, quando chega lá, repete exactamente os mesmos erros porque custa muito mais do que mudar pra outro continente pra deixar de ser mané. E aí você quer voltar e então sim você descobre que é uma pessoa diferente. Aí quer ir embora de novo. E depois voltar de novo. E depois ir embora de novo. Funciona assim pra quem tem esse coração de Álvaro de Campos, não consegue parar quieto, mas não vive sem um porto. Me identifico.



Meu porto é o Rio. A cidade mais feia e a mais linda do mundo. Assim, lado B lado A. Gosto de ter a minha casinha da Tia Nina em Rocha Miranda. Gosto de ir ver o pôr-do-sol na Urca. Gosto de dançar samba na Lapa e dormir na casa da minha amiga na Glória. Gosto de ser carioca. Gosto de ter tanta coisa pra fazer que ainda nem sequer tive tempo de comer Biscoito Globo.



Voltei.



posted by Arlequina @ 6:29 PM  
 



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                                                        Na vida."

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