Ela gosta das coisas do mundo, é verdade. Mas vício mesmo só um: acabar de chegar. No torpor do acabar de chegar, as cores são fluorescentes, os objetos saltam, os rostos são lindos, as pessoas interessam, os sonhos são possíveis, o abismo é flutuante, toda boca sorri, todo olho brilha, todo barulho canta e a música entra no estômago, e vai subindo até os neurônios, e faz a cabeça explodir de vontade de abraçar o universo. Quando acaba de chegar ela é rica, é alegre, é corajosa, é linda, é dançarina, é rainha, ela pode tudo, ela sabe tudo, ela vai com tudo, ela ama tudo. Ela grita, ri, gargalha, lembra da saudade e até a saudade é boa. Cada membro que se move pra qualquer lugar que seja é um orgasmo. E ela não precisa de nada, nem de você, porque ela tem o mundo.
Quando o efeito vai desbotando, só sobra a vida mesmo como ela é. Mas quem tem um vício, só o tem porque a vida mesmo como ela é não serve. Dói. Espreme. Irrita.
Felizes os que podem ficar. Ela está sempre indo porque só conhece a paz quando acaba de chegar. Onde, é o de menos.
Pra Chris, que padece do mesmo mal e também está sempre chegando.
Aliás... pra todos os arianos, esses malditos.
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