1.14.2010 |
classe x laboratório
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Há séculos essa pergunta assola minha noção de humanidade: o que é educação e o que é condicionamento? Por exemplo. Dizer “bom dia” e “oitudobom” é um ato gentil de fineza que demonstra atenção para com as pessoas ao seu redor OU uma coisa que acostumamos a dizer toda vez que chegamos ao trabalho que nem ratos de laboratório que, de tanto repetir o caminho recepção-bom-dia-cafeteira-enche-a-xícara-sala-de-criação-bom-dia-senta-na-cadeira-bota-a-xícara-na-mesa-liga-o-pc-trabalha, acabamos condicionados a fazer tudo no automático?
Ontem no metrô tive uma epifania que mudou a minha vida.
No Rio tem aquelas poltronas especiais reservadas pra idosos, grávidas, etc, blá blá. Tem pra enfeitar. Ninguém respeita. Esteja o metrô vazio, ou em clima de vamos todos pro campo de concentração, velho que entra em pé permanece em pé. Isso é falta de educação.
Em São Paulo, assim como no Rio, existe o mesmo tipo de poltrona. O interessante daqui* é que absolutamente NINGUÉM com menos de 60 anos, de útero vazio e pernas em condições saudáveis, senta. Ninguém. Se não tem demanda pra essa poltrona no metrô, ela permanece vazia, mesmo que tenha gente em pé. Certa feita, arrisquei quebrar o paradigma e fui imediatamente reprimida pelo meu amigo paulista: “EI! Essa poltrona é pra velho!” Argumentei que não havia qualquer velho no vagão e, caso algum entrasse, eu vagaria o assento imediatamente. Mas a galera me olhou com uma cara tão estranha que eu fiquei com medo de pararem o metrô e aquela voz misteriosa que diz as estações começasse a declamar os Direitos Humanos, e a galera me linchasse e eu fosse escorraçada de metrô e esquartejada e meus órgãos expostos em praça pública sob uma faixa com os dizeres “tomadora de lugar de velhos no metrô.” Levantei. Mas, ao descer na estação mais cheia de São Paulo, percebi que uma muvuca se acotovelava pra subir a escada rolante (afinal de contas paulista precisa fazer tudo muito rápido e na frente de todo mundo) e todos os velhinhos que viajaram sentados, agora eram empurrados, chutados, pisoteados, arrastados, sem a menor dó. Conclusão: o respeito ao assento preferencial no metrô de São Paulo é educação? Não. É condicionamento.
E educação, o que é? Até agora não achei nenhum exemplo relevante. Deve estar em falta.
*A quem interessar possa, Iemanjá levou a sério as 27 ondinhas que pulei este Réveillon e atendeu meus pedidos. Isso significa que agora esta Arlequina tem como cenário o lugar perfeito pras suas palhaçadas: Arlequinal, SP. |
posted by Arlequina
@ 9:35 AM
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10 Comments: |
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Arlequina,
O texto começo bem, mas o final foi meio sem graça. té
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Anônimo,
Obrigada pelo precioso toque. Prometo melhorar no próximo. Eu juro que me esforço.
té.
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Educação é assim: quer fazer uma crítica construtiva, assina. Gente inteligente como a Deborah sabe ouvir.
Ops. Crítica aleatória pode ficar anônima mesmo. Sorry.
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Caro Sr. "Anônimo", sem graça foi seu comentário!! Arlequina, seu texto está perfeito, como todos q vc escreve! Parabéns!
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Pega mal contar que esse comentário aí em cima foi da minha mãe?
=p
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Eu sento no metrô de Sampa e ninguem diz nada. Será que tô velho? 51 não é tanto assim...
E não entendi teu * final, foste pra SP, é isso?
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O seu texto como sempre é ótimo, já sabes que sou sua fã como escritora, mas o melhor mesmo foi vc entregar que a fã elogiosa acima é sua mãe! hahahahahahahaha
PS.: Olha só, sempre usei esse argumento de condicionamento.... sim, porque se fôssemos criados sem condicionamento, fia, não sairíamos das cavernas. O ser humano é uma tristeza.
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(han, han...) é, bem, se me permite, como - oh - tipo especialista, quero comentar que condicionamento é só o comportamento aprendido (cognitivo) e "educação" é um condicionamento -> moral e que passa pela área do julgamento (no cérebro). Cordialidade é cultural. Os ratinhos do laboratório podem ser "educados" mas não há ego pra se enaltecer. Desculpe estar falando muito, mas há mto tempo não via seu blog e cargas-dagua acabei re-encontrando. Vc tá escrevendo bem melhor do que 3 anos atrás. :) tchau e um aperto de mão.
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ps: sim, há ironia, ok?? fui! :p
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taí um povo estranho pra se compreender. o paulistano... tô aqui há mais de trinta e ainda vejo coisas, como essa aí que vc contou e me pergunto, "que porra é essa?"
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Arlequina,
O texto começo bem, mas o final foi meio sem graça.
té