3.04.2010
Não virarei paulistana.
 
Não torcerei pro São Paulo. Nem pro Corinthians, por mais que simpatize com este.

Não sairei correndo pra pegar o metrô se sei que vai passar outro daqui a 30 segundos.

Não deixarei de entrar no metrô vazio só porque não tem lugar pra ir sentada e vai passar outro ainda mais vazio daqui a 30 segundos.

Se, quando estiver na porta do metrô, por qualquer motivo que seja, eu resolver não entrar no veículo, darei meio passo para o lado pro caso da pessoa atrás de mim não ter tomado a mesma decisão e quiser embarcar.

Não esquecerei que existe alguém atrás de mim.

E na minha frente.

E ao meu lado.

Não atravessarei a rua fora da faixa e nem com o sinal aberto caso não esteja com muita pressa de chegar ao outro lado por um motivo plausível.

Não irei à Vila Country.

Não irei à DJ Club.

Não irei à Galeria do Rock.

Não irei ao samba de salto alto ou sapato fechado.

Não gastarei 25 reais só pra entrar num samba.

Caso vá ao samba, sambarei.

Não trabalharei quarta-feira de cinzas.

Não precisarei ressaltar que jamais trabalharei no Carnaval.

Não pagarei mais de dez reais em nenhum drinque.

Não usarei tallier antes dos 40 anos de idade.

Não surtarei toda vez que vir uma praia.

Não levarei trabalho pra casa desnecessariamente.

Não sonharei em ter um carro pra ficar presa no trânsito todo dia.

Não irei ao banco no meu horário de almoço.

Não enaltecerei o movimento hip hop.

Não voltarei a fumar.

Não falarei “vou estar qualquercoisanogerúndio”.

Não desejarei ficar rica a qualquer custo antes dos trinta.

Não desejarei ficar rica a qualquer custo hora nenhuma.

Não comerei miojo no almoço enquanto discorro sobre os restaurantes gourmets finos da Vila Olímpia que freqüento aos finais de semana.

Não viverei apenas aos finais de semana.

Não chamarei nordestino de baiano, salvo aqueles que realmente nasceram no Estado da Bahia.

Não corrigirei quem chama paulistano de paulista, porque saberei para sempre que quem nasceu na cidade de Guarulhos, Campinas, Alumínio, Bananal, Osasco, São Paulo ou qualquer outra cidade dentro do Estado de São Paulo, é paulista. Assim como todos que nasceram dentro do estado da Bahia são baianos. Assim como todos que nasceram dentro da região do Nordeste são nordestinos.

Não deixarei de pôr ketchup na minha pizza porque a pizza que eu comprei, seja da Sadia ou do melhor chef descendente de italiano do Universo, será consumida por mim da maneira que eu bem entender.

No mais, continuarei odiando calor, adorando elegância, implorando por enxurradas de referência cultural, falando da Semana da Arte Moderna como o evento mais importante da história cultural brasileira, andando a pé bem rápido, tomando muito café, correndo atrás de prazo, exigindo que o sushi seja delicioso, amando cinema, odiando mato, preferindo luz elétrica à luz do sol, reclamando que não tenho tempo pra fazer nada que gosto mesmo sabendo que quando tenho tempo de sobra, a sobra logo se transforma em tédio e arranca o sentido da minha vida.

Em prol da manutenção da minha identidade, bem como da minha sanidade mental, prometo seguir à risca cada uma dessas linhas.
posted by Arlequina @ 11:46 AM  
 



4 Comments:
  • At 12:05 PM, Blogger Clarissa said…

    Hahahahaha pois é. Há muitas dessas coisas que eu não farei jamais também.
    Vila Country é aquele lugar imitando Cenário de filme de Faroeste americano que fica perto da Barra Funda?

    Alguém frequenta aquele lugar? Achei que fosse só decoração de mau gosto.

    Beijos

     
  • At 4:54 PM, Anonymous Norrin Kurama said…

    "Caso vá ao samba, sambarei".
    Isso pra mim é vital pelo que representa. Continue você.

    E é legal saber que você não está fumando.

     
  • At 2:05 PM, Blogger Fátima Nascimento said…

    Adorei o texto!

     
  • At 12:25 AM, Blogger Alice P. Guimarães said…

    Essa é muito boa menina! Já fez a leitura da bula de S. Paulo, mas mesmo assim tem muitos encantos é só ver além dos 4 dedos. Beijo grande!!!!

     
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