Assim como a grande maioria das pessoas que conheço, tive uma criação cristã e uma mãe dramática. Mas, ao contrário da maioria dos brasileiros, sou privilegiada por nunca ter precisado viver com menos que o necessário. Mesmo assim cresci questionando a disposição das peças no mundo que me cerca. Por um momento deixei me convencerem que caridade e submissão fariam de mim uma pessoa melhor. Paciência era uma virtude que eu precisava desenvolver. Nasci egoísta e isso era um crime pelo qual precisava pagar.
Um dia Dogville chegou a mim. E nele eu vi muito mais do que uma revolução estética. Eu vi Grace... e nela me vi. Querendo consertar o mundo e sendo engolida pela minha própria arrogância, por me acreditar ser capaz de assumir essa responsabilidade. Grace e seu pai vieram me contar que culpa não é bondade e não se conserta as pessoas estimulando o que elas têm de pior. Aliás, não se conserta pessoas. Elas não são problema meu.
Em uma entrevista sobre outra de suas criações, Lars Von Trier declarou que ele é o melhor diretor do mundo, já Deus, ele não estava certo de ser o melhor deus. Bem, não sei nada sobre Deus, mas é a Lars Von Trier que agradeço por ter me absolvido da culpa de ser humana. E não ter receio de, quando eu achar que for preciso, matar a todos e queimar a cidade.
Dogville fez de mim uma pessoa diferente. Se melhor ou pior, depende do ponto de vista. Só sei que to precisando assistir de novo.
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Adoro Dogville. Adoro como vc escreve.
Já virou lugar-comum dizer que vc se supera a cada texto, mas nem sempre posso fugir da mesmice de minhas palavras.