A vida como ela “é”
Estou eu chegando da boemia, lépida e fagueira, com uma ou outra dose de álcool no sangue. Como o de costume, deito tranqüilamente no sofá da sala e ligo a TV em busca de um besteirol qualquer. Geralmente vejo uns 5 minutos de sitcom, percebo que não tenho a menor condição de ver TV e vou dormir. É um ritual sagrado de fim de noite.
Certa feita, o zapping madrigal me levou ao canal americano A&E, onde passava um programa chamado “Intervenção”. O João Pestana estava QUASE vindo me buscar quando de repente me dei conta do que tava vendo e despertei. Era um reality. Até aí nada demais, afinal de contas hoje praticamente todos os programas de televisão são realities - e é quase impossível você mesmo deixar de participar de um, dada a recorrente soma catastrófica do advento da câmera digital + youtube + álcool. Com tanta câmera espalhada em tanto lugar, é até compreensível que muita gente fique confusa e dê tchauzinho pro Google Earth. Vivemos num mundo grotesco onde os nossos maravilhosos políticos não têm mais sequer o direito de expressar livremente gestos obscenos na discrição de seus gabinetes. Um absurdo. Mas voltando ao programa. Funciona assim: você tem um parente que está se fudendo espontaneamente de alguma maneira e você não é muito afeito a essa história de direito à auto-destrutição e respeito à privacidade alheia. Então manda uma carta para o programa contando a história do seu pobre ente. Se a produção considerar o drama suficientemente triste, promove um encontro entre você e outros membros da família, uma equipe de psiquiatras e uma equipe de áudio-visual. Uma vez montado o exército da “intervenção”, ele é mandado à casa do tal parente a fim de tomar providências. Interessante, não?
Nesse episódio que tive a felicidade de assistir, o exército foi enviado para resgatar um adolescente quase adulto do submundo dos tóchico. O cara era usuário de heroína e por algum motivo concordou (ou não) que sua reabilitação fosse transmitida mundialmente. Poderia ser mais um programa dramático sobre a tristeza que é ver alguém da família se afundar nas drogas e blá blá blá, se não fossem os inovadores requintes de escatologia. Em uma das cenas, o poor loser admite PARA A CÂMERA que infelizmente não estava conseguindo resistir à tentação de tomar mais um pico. Então ele convida A CÂMERA a entrar no seu quarto onde estão estrategicamente guardados em uma gaveta todos os tickets to ride necessários para uma viagem heróica: elástico, seringa, colher, isqueiro, etc etc. E drogas, é claro. Daí, enquanto o rapazinho parte em uma verdadeira epopéia em busca de uma veia no seu bracinho caucasiano já tão gasto, ele vai explicando PARA A CÂMERA que se a sua mãe sonhar que ele caiu em tentação, vai ficar extremamente desapontada. Vejam bem que eu, aqui no Brasil, posso saber tranqüilamente que ele não agüentou ficar nem três dias sem se picar, desde que eu guarde segredo e não conte nada pra sua mãe. Pelo menos ele confiou em mim. É importante que esse tipo de infeliz possa ter pelo menos uma pessoa de confiança com quem se sinta à vontade para dividir suas mazelas, segundo um dos psiquiatras do programa. E enquanto meu novo amigo me fazia confissões, ele continuava catando uma veia penetrável quando, distraído, rompeu algum vaso que não devia e espirrou sangue pra todos os lados, numa cena belíssima a la Tarantino. Constrangido, o rapaz não se fez de rogado. Levou rapidamente o buraco sangrento até a sua boca e lá o deixou, até que o sangue estancasse. Então começou a procurar novas veias até que finalmente encontrou uma boa e...
...desliguei a televisão. Muito saudosa dos velhos tempos nos quais ficções (eu disse ficções) como Trainspotting eram chocantes, deitei na minha cama e parti para o mundo dos sonhos. Que, definitivamente, é MUITO menos estranho do que o mundo real.
-
Tem outro reality que eu quero contar, mas o texto ficou grande. Fica pro próximo post.
-
Ah, já que cheguei agora, vou aproveitar o ensejo e confessar publicamente que hoje fiz algo que não fazia há quase uns dez anos: comi no Mc Donalds. Isso movida pela curiosidade de experimentar o novo sanduíche vegetariano, o Veggie Crispy. A minha primeira desagradável surpresa foi com o preço. SETE REAIS! Pra vcs terem idéia, na última vez que comi no Mc Donalds, com seis e pouco você podia levar aquele trio do Big mac, coca e batata-frita. Depois veio a decepção do sanduíche, que me lembrou o motivo de há tanto tempo eu não pisar naquela lanchonete de palhaço: É UMA BOSTA. Meu deus, que sanduíche ruim! E o pior de tudo é que graças a ele estou com gases. Vou ter que dormir agora com um incenso aceso no quarto. Só volto no Mc Donalds quando eles conseguirem me convencer outra vez a experimentar alguma nova porcaria. Então pode botar aí mais uns dez anos de greve.
-
Esse post está tão americano, não?
|