Tem gente que gosta de viver romance. E passa metade da vida a espera de uma grande história romântica pra chamar de sua e que dure a outra metade até pra sempre. Acho bonito, sou a favor do romance no mundo. Mas eu vivo contos e vou explicar por que.
Romance tem muitas páginas, é linear e, se não for muito bem escrito, pode ficar enfadonho. Já o conto, mesmo quando é chatinho, eu sei que dificilmente passa da página 32. Tem romance que realmente não acaba, então você já sabe o final. Pra mim, saber o final é sem graça. Tem romance que acaba e eu já sabia que esse seria o final. Sem graça. Tem romance que acaba de surpresa e não tem como isso não ser frustrante. Não lido bem com frustração.
Contos não precisam ter lição de moral. Pode vir com uma grande ironia da vida e virar crônica, que é divertido. Pode terminar mal, ou terminar de surpresa também, mas quem se importa, foi só um conto, depois tem mais. Pode às vezes emendar com outro conto e ficar meio confuso, é preciso certo equilíbrio. Pode também parecer que é conto meu e ser de outra pessoa. Aí dói um pouco, mas o romance também não tá livre desse porém.
Minha vida é um livro de contos. De carnaval, de viagens, de fins-de-semana, de ano novo. Eu juro que faço o máximo pra eles serem divertidos e leves, às vezes até românticos - mas sem o peso de um romance, sabe? Nem sempre dá certo, mas é assim que eu vivo.
Aí vem você que, ao invés de se preocupar em escrever a porra do seu romance, quer dar uma de crítico sobre o meu estilo literário. Eu vou te mandar desentrosar, sabe por que? Não é nem pelo fato da história ser minha e eu ter o direito de escrevê-la do jeito que eu quiser. Também nem é por ser chato pra caralho gente me dizendo verdades sobre a minha vida. É porque, seu besta, caso você não tenha se tocado, meus contos também dependem da existência de outros personagens, que nem o seu romance. Então não precisa se ofender, porque eu sou tão carente quanto você. Se um dia eu começar a escrever monólogo, mas um monólogo que não seja amargo nem enfadonho... se um dia eu começar a escrever monólogos divertidos e felizes, como só os gênios sabem fazer, aí sim você pode se irritar comigo. Porque auto-suficiência no livro dos outros é sempre muito irritante. E é só isso que eu invejo.