12.29.2006

 
A malandragem que não teve graça



Tio Tuninho já foi assunto de blog há muito tempo, nos meus primeiros passos de best seller virtual wannabe. Mas vou contar de novo.

Tio Tuninho é meu tio que parece mafioso italiano. A cara dele meio lembra Al Pacino (ou De Niro? Não adianta, eu SEMPRE confundo), com o olho meio caido e sempre muito vermelho, anda sempre com uns ouros (de verdade mesmo) pendurados, um anelzão enorme, tem negócios, muitos negócios estranhos, namoradas, muitas namoradas, filhos adotivos e bastardos e uma família oficial que tá no centro de tudo.

Tio Tuninho no natal passado quis me dar um sermão sobre a importância de valores morais como religião e família. Ficou chocadíssimo quando eu disse que não era católica.

- Como não, Curumim (ele me chamava de curumim), como você não é católica?? Que absurdo!
- Não sou, tio. Fazer o que? Paciência.
- Mas mesmo assim eu vou te contar uma história sobre o amor de mãe. Há muitos anos atrás, está na bíblia!, duas mães brigavam por uma criança...
- Sei, eu conheço essa história.
- Então. Elas brigavam, daí Jesus Cristo disse que ia partir a criança ao meio...
- Quem?
- Ah, tá de brincadeira. Lógico que você sabe quem é Jesus!
- Sei, mas quem fez isso foi Salomão.
- Cala a boca que você não sabe de nada, você não é católica e não lê a bíblia. Como eu ia dizendo... Jesus disse que ia partir a criança no meio e dar um pedaço pra cada uma. Aí a mãe de verdade disse que preferia ver o filho com outra do que partido.
- To ligada...
- Então, Curumim. Entendeu? Nada se compara ao amor da família, a sabedoria de Deus e...

*triiim

-Alô? Fulana? Oi Fulana, já estou indo.

Tio Tuninho então teve que parar a conversa séria e se despedir porque ia ceiar na casa da namorada e ela estava esperando. E ele tinha que fazer isso rápido porque meia-noite era a hora de ceiar na casa oficial com a mulher oficial e a família oficial. Depois ele continuaria me ensinando sobre ser um bom cristão.


Tio Tuninho vivia doente. Todo ano ele tinha uma doença grande tipo fígado, coração, hemorróida, essas coisas... E sempre ia pro hospital querendo se despedir da família toda porque, segundo ele, ia morrer. E sempre tinha muita certeza de que ia morrer porque, também segundo ele, o pai de santo tinha avisado.

Tio Tuninho, além de ser bom cristão, tinha pai de santo.

Um belo dia Tio Tuninho me chamou num canto e "segredou" que sabia que não ia morrer mais, mas continuava contando essa lorota pros filhos ficarem sempre perto. Aí eu perguntei:

- Ué, mas e o pai de santo?
- Ah, Curumim, isso não importa mais. Eu mudei...
- Ah, eu to notando que o senhor tá mais calmo, mais saudável... Mudou mesmo.
- Não, Curumim, eu mudei de pai de santo.
- !

Tio Tuninho estava chegando em casa onteontem e dois caras armados traziam um terceiro cara seqüestrado e por algum motivo acharam que seria legal roubar o carro do Tio Tuninho pra prosseguir o seqüestro. Como se o meu Tio Tuninho fosse deixar dois vagabundos invadirem assim, o território DELE. Mas os vagabundos não queriam saber o quanto o Tio Tuninho era figura, o quanto ele era importante e o quanto tinha batalhado pra conquistar aquele território. Deram três tiros nele. Na frente dos três netos pequenos, entre 4 e 6 anos. E fugiram.

Tio Tuninho morreu. Dessa vez de verdade. Sem aviso nem despedida.

E o Rio de Janeiro continua lindo.

:(


posted by Arlequina @ 7:51 AM   0 comments
 





12.07.2006

 
malandro é malandro, mané é mané

Minha família tá com urucubaca braba. Hoje de manhã cedo chegou a notícia de que ladrões patetas entraram na casa dos meus tios de 70 e quase 80 anos cada um, querendo oooouro, muuuito oooouro. Explico: dia desse teve uma festa à fantasia de família e meu pai e uns amigos dele foram de malandro, com várias correntes douradas penduradas. Claro que as correntes eram horríveis e custaram um real o metro na Casa Turuna. Mas meu tio achou lin-das e no fim da festa catou todas pra ele. Aí ficava andando com as correntes pela rua e posando de bicheiro na padaria, na banca de revista, na praça... Quem vai negar esse pequeno prazer a um senhor de oitenta anos? Se ele quiser andar com um chapéu de Napoleão, que ande, ué, idade é pra isso.

Só que dois manés acharam bonito e resolveram que iriam se apossar do oooouro da minha família. Então hoje, às sete da manhã, bateram na porta da minha tia a fim de "sondar o ambiente" fazendo perguntas discretíssimas, como: "Aqui só mora a senhora e o seu marido né?". Coisa assim, de profissional. Então quando a minha tia começou a perceber que tinha alguma coisa errada, eles jogaram a "disfarçatez" pro alto e já foram entrando na casa, apontando arma pra ela e exigindo "os ouros do corôa". Só que a minha tia começou a gritar e vieram os cachorros da casa correndo (um poodle e uma vira-lata pequena ¬¬) e latindo. Daí os cachorros da vizinha começaram a latir também, meu pai perguntou de lá de cima o que tava havendo e os imbecis foram embora, sem ouro nem nada.

Uma pena. Dava tudo pra ver a cara deles quando tentassem vender o ouro na rua. ¬¬

--

Outro caso aconteceu com meu irmão semana passada. Roubaram o celular dele e ficaram ligando tocando o terror dizendo que era da favela x, da facção y, que se bloqueasse o celular eles iam fazer e acontecer. Claro que meu irmão bloqueou. Mas os bandidões super poderosos não se deram por vencidos e continuaram ligando, fazendo cada vez mais ameaças, e cada vez mais absurdas. Ligaram pra agenda toda, inclusive pra namoradinha dele, coitada. Um belo dia um amigo do meu pai atendeu e disse "Ó, negócio é o seguinte, eu sô POLIÇA, tá entendendo? Eu tb tenho contato na favela x, falou? E se vocês continuarem com a palhaçada isso vai ficar sério de verdade e vocês vão se arrepender de ter feito gracinha com as pessoas erradas".

Claro que não ligaram mais.

--

Isso me lembrou uma outra história de uma amiga minha, também carioca e esquentadinha como todo carioca sabe ser. Ela tava trabalhando de presidente de mesa numa eleição aí, logicamente muito contrariada, pq nunca vi ninguém feliz por ser mesário, ainda mais em pleno Rio de Janeiro num domingo de sol. Como se não bastasse, chega um cara arrumando confusão totalmente errado, como todo carioca sabe fazer. Aí botou o dedo na cara dela e disse "Olha aqui, minha amiga, vc vai fazer as coisas do meu jeito, entendeu? Olha que tu num sabe com quem tu tá falando, hein". No que ela rebate: "Não senhor, nós vamos fazer as coisas do MEU jeito e pelo visto é o senhor que não sabe com quem está falando.". Num instante o otário se aquietou.

--

Já não se fazem mais malandros como antigamente. Se eu fosse bandido carioca iria começar a exigir testes de aptidão pra quem quisesse trabalhar no ramo. Não que eu esteja reclamando. Por mim minha família continua assim, muito bem, só caindo na mão de mané. Já que no Rio é inevitável não cair numa mão ixpierta mais cedo ou mais tarde, que seja de mané mesmo. Desses que nem sequer percebem a diferença entre ouro e ourina.

posted by Arlequina @ 10:08 AM   0 comments
 




il libretto

 

Rss


"Em qualquer terra em que os homens amem. 
 Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
 
                                                        Na vida."

Máscaras - Menotti del Picchia

 

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Ai Minha Santa Aquerupita!
By Julia
Meu Melhor Amigo Gay
Quero te pegar sóbrio
Cara de Milho
Humano e Patético
Bodega da Loli
Café e Cigarros
Flor de Hospital
Diário de Trabalho
Homem é Tudo Palhaço
Vida Bizarra
A Casa das Mil Portas

 

clap

 

Opera Bufa
Desenblogue
Pérolas para porcos
Piores Briefings do Mundo
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