3.30.2007

 
Acabei de me dar conta do motivo pelo qual eu não dirijo. De alguma maneira, meu inconsciente não deixa. Isso porque se um dia eu deixar de andar de ônibus, grande parte da graça da minha vida se esvai. Não vou muito a baladas, não tenho muitos amigos no orkut, tenho menos ainda na vida real e meus dois únicos programas de lazer são: ver filme e seriados baixados da net na casa do Daniel AND reclamar da existência no Bar do Mirante com as mesmas pessoas igualmente reclamonas de sempre.

Então minha vida seria muito triste e limitada se não fossem minhas histórias de ônibus pra contar. Porque é o único lugar onde sou realmente obrigada a dividir o mesmo espaço com pessoas desconhecidas, eu querendo OU não. Um colega meu disse que é bom ter orkut pra nós podermos ficar a par de como anda a mediocridade humana. Pois eu digo que o ônibus tem essa mesmíssima utilidade. Porque se eu soubesse dirigir, provavelmente vocês NUNCA leriam um post como esse.





Pai, me ensina a ser palhaço

Era horário de saída de colégio e eu entro no buzu com mais uma penca de seres humanos no auge da parte que deveria ser apagada do curriculum vitae de todo mundo: a puberdade. A vida em si já é uma grande piada de Deus, mas Ele não precisava ter exagerado tanto no ridículo da puberdade. Inclusive, eu acho que depois de termos vivido os anos 80, o mundo já cumpriu sua cota de ser ridículo, portanto a adolescência deveria ser completamente extinguida. Lamentavelmente, eu não sou Deus. Então somos obrigados a ouvir diálogos assim:

Motorista: Fulaniiiinho! Como você ta, menino!
Menino: Oi Seu Beltrano!! To ótimo! E o senhor?
Motorista: To bem... E o seu pai?
Menino: Ah, nem te conto... Ta com uma mulher gostosa... GOSTOOOOSA! Mas assim... muuuuuito gostosa!
Motorista: Coisa feia, menino! Ta de olho da mulher do pai!
Menino: Oooooxe, se ela vacilar eu como!
Motorista: Ô rapaz, que isso! Respeito! É a mulher do seu pai!
Menino: Que nada! Ele nem ia ligar se eu comesse ela. Ia ficar era orgulhoso... Que que tem dividir a mulher gostosa com o filho?

Eu (pensando): Pois é, que que tem, né? Onde come um comem dois. Qual o problema? Não é nada demais. É só uma mulher mesmo...

Menino: E quando meu pai pegou era feinha... feiiiinha... Cabelinho duro, sabe? Andava toda largada... Aí meu pai deu um trato.
Motorista: Reproduziu ela toda né? (sic)
Menino: Ah é. Agora ela ta toda de cabelo alisado, anda de salto, passa batom...
Motorista: E seu pai arrumou onde?
Menino: Em Dores. O carro quebrou bem na porta da casa dela, veja só! Aí ela veio ajudar. Aí meu pai disse: “Essa mulher vai ser minha”. Aí eu falei: “Te dou três dias.”. Aí ele disse: “Me dê dois!”.
Motorista: Eta garanhão da peste!
Menino: Ta! No dia seguinte eu tava no colégio, aí foram me chamar na sala dizendo que meu pai tinha ido me buscar mais cedo pq eu tinha dentista. Achei estranho, porque eu nem tava sabendo de dentista nenhum. Quando chego la fora... ele queria era mostrar que já tava com a nêga dentro do carro! Eu disse: “Aeeeê corooooa!”
Motorista: Quantos anos seu pai tem, Fulaninho?
Menino: Quarenta e cinco.
Motorista: E ela?
Menino: Vinte.
Motorista: E você?
Menino: Quinze.
Motorista: É... Então ta mais pra você mesmo né?
Menino: Então... já disse... se vacilar já era. Abriu as perna, eu como!







A juventude é uma coisa bonita né? Principalmente quando você faz quarenta e cinco anos e ainda está vivendo auge da puberdade, que nem o seu filho de quinze. Uma maravilha.
posted by Arlequina @ 9:07 AM   0 comments
 





3.27.2007

 
Eles

Eles estavam assistindo Cidade de Deus na televisão numa noite de segunda-feira chuvosa. Deu fome. Foram cozinhar alguma coisa. Na verdade, ele foi. Porque o único motivo de orgulho culinário dela era saber fazer brigadeiro e pipoca sem queimar. Ela ficou com o trabalho de peão, cortando tomate, ralando cenoura, descascando limão. Prato da noite: arroz com legumes e limonada suíça. Ela prova a limonada. Ele pergunta:

- Ta bom?

E ela responde:

- Pra mim ta. Pra você falta açúcar. Duas colheres.

Eles botam o prato e ele dá a primeira garfada no arroz. E avisa:

- Você vai achar sem sal.

Ela pega o saleiro e começa a despejar o sal no arroz.

- Ué, mas você não vai nem provar?
- Pra quê? Você não já disse que eu vou achar sem sal?

Então é assim que funciona um namoro. Ou pelo menos é assim que deveria funcionar. Um sabe do que o outro gosta. Na medida certa. E providencia. Só pra ver o outro feliz.

:)
posted by Arlequina @ 9:01 PM   0 comments
 





3.14.2007

 
Essa é tão absurda quanto verídica e eu vou mandar pro Homem é Tudo Palhaço. Será que publicam?





Palhaço Bruce Lee

Certa feita, estava eu no ônibus empezinha pacientemente esperando minha casa aparecer na imensidão da avenida que a separa da faculdade e que não acaba nunca. No par de poltronas da minha frente estava um rapaz de uns 18 anos e uma senhora. Sendo que também em pé, do meu lado, estava um segundo rapaz que parecia ser coleguinha do que estava sentado. Quando a senhora se levantou, o cavalheiro gentilmente fez questão de me mostrar o lugar vago, preferindo que eu me acomodasse no banco que, segundo as leis do coletivo, por direito era dele, por estar mais próximo e por ter um amigo sentado do lado. Aceitei a fineza tão rara e sentei. Eis que a cortina abriu e o espetáculo começou.

Olha, eu não sou nenhum mulherão de parar o trânsito (muito menos quando estou voltando da faculdade meio-dia suada, descabelada e com fome). Mas basta a presença de um ser humano do sexo feminino pra despertar instintos tão babacas quanto primitivos de quem passou duas vezes na fila de adquirir testosterona. Então o palhaço sentado, que até então estava caladinho, resolveu ressaltar o quanto era macho, iniciando um diálogo interessantíssimo com o seu colega fino e educado. E eu no meio. Lamentando minha audição tão perfeita.

- Hoje eu tenho que ir lá na Treze...
- É?
- É.
- Hum...
- Vou lá resolver uma treta.
- ...
- Com a Fulaninha. Sabe a Fulaninha?
- Não.
- A Fulaninha pô... Ah, não importa. É uma guria aí que eu vou ter que dar umas porrada. Andou inventando umas coisas de mim. Vou lá resolver essa parada.
- Hum.
- Disseram pra eu deixar pra lá, que ela vai botar maior barreira da academia de judô dela atrás de mim. Mas num to nem aí. Pode vir quantos quiser que eu meto porrada em todo mundo. Começando pela Fulaninha.
- Hehe.

*Notem como o amigo estava MUITO interessado na conversa, coitadinho.*

- Até porque em judô eu mando, você sabe.
- Pois é.
- O Fulaninho, meu professor, andou até dizendo pra eu pegar mais leve lá nas aulas... Ele disse que o pessoal ta reclamando que eu to batendo demais... Que desse jeito ele não vai poder botar ninguém pra treinar comigo. Acho que vou ter que mudar de academia. Vou pra alguma que o pessoal seja do meu nível... Se não é covardia mesmo, né?
- Ah, é...

*Eu juro que deu vontade de dizer que já tinha entendido. Que do meu lado tinha um machão destemido que batia em todo mundo, inclusive em mulher. Que até entregava porrada em domicílio. Nossa, que impressionante. Agora por favor cala a boca porque você ta sendo ridículo e constrangendo o seu amigo, idiota. Mas ainda bem que não disse. Porque o melhor da apresentação ainda ia começar...*

- Cara, você soube do Cicrano???
- Soube... Teve uma treta com ele no Pré-Caju, não foi?

*Pausa pra explicação extra: Pré-Caju é uma prévia carnavalesca da minha cidade cujo objetivo é imitar tudo que há de pior no carnaval de Salvador. O evento conta com muitos foliões, trios elétricos, camarotes, Chiclete com Banana, espuma e mijo correndo livremente na avenida. Uma grande festa. Voltemos à história (que se passou bem na semana seguinte ao Pré-Caju).*

- Pois é, ele foi pro hospital!
- Também, né, eu soube que tinham dois pra bater no cara...
- Dois??? Que nada! Eram uns quinze!
- Quinze?
- Quinze! Eu tava lá do lado, vi tudo! Quando vi que tavam batendo no Cicrano eu me meti, mas a essa altura já tinham quebrado o nariz dele. Ah, mas eu me vinguei! Bati nos quinze! Em todos de uma vez!

*Acho que essa é uma cena que merece replay. Vejam de novo com bastante atenção.*

- Dois??? Que nada! Eram uns quinze!
- Quinze?
- Quinze! Eu tava lá do lado, vi tudo! Quando vi que tavam batendo no Cicrano eu me meti, mas a essa altura já tinham quebrado o nariz dele. Ah, mas eu me vinguei! Bati nos quinze! Em todos de uma vez!

*Ele bateu nos quinze. Em todos. De uma vez.*

- Não quis nem saber! Saí distribuindo murro, chute, cabeçada, tapa... Quando eu vi tavam os quinze no chão!
- ...
- E o pessoal dos camarotes gritando, me aplaudindo, dizendo “É isso aí!! Que cara foda!”.
- Sei.
- Saiu até no jornal!

AAAAAAAH NÃO!!! No jornal não!!! Aí é sacanagem! Só faltava ele dizer que a manchete foi: “Super testosterona mata quinze de uma vez com apenas um peteleco no Pré Caju”. Até essa parte do jornal eu estava até acreditando! Depois disso tive que levantar, mesmo faltando um pedação de avenida pra começar a aparecer minha casa. Já pensou se ele cisma comigo, levanta, tira a camisa e grita: “Que que é? Num ta gostando das minhas histórias não?? Vou te dar... porraaaada!”.

Deus me livre.
posted by Arlequina @ 1:45 PM   0 comments
 




il libretto

 

Rss


"Em qualquer terra em que os homens amem. 
 Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
 
                                                        Na vida."

Máscaras - Menotti del Picchia

 

outros palhaços

 

Ai Minha Santa Aquerupita!
By Julia
Meu Melhor Amigo Gay
Quero te pegar sóbrio
Cara de Milho
Humano e Patético
Bodega da Loli
Café e Cigarros
Flor de Hospital
Diário de Trabalho
Homem é Tudo Palhaço
Vida Bizarra
A Casa das Mil Portas

 

clap

 

Opera Bufa
Desenblogue
Pérolas para porcos
Piores Briefings do Mundo
Malvados
Vida Besta
Omelete
Danilo Gentili
Wagner & Beethoven
Ryotiras
Vai trabalhar, vagabundo!
Follow the Colours
Design On The Rocks
Puta Sacada
4P
Anões em Chamas
Kibe Loco

 

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