3.28.2011 |
All because of U2
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(ou: Como ser fã da maior e mais certinha banda pop do mundo e manter-se uma chata individualista)
Bono, se for parar pra ver, realmente não faz sentido eu ser fã da sua banda. Nunca fui militante de nada. Nunca dei grandes importâncias pros famintos da África. To nem aí pro Martin Luther King. Não me comovo com aviões ingleses soltando bomba na Irlanda num domingo sangrento qualquer. Nem entendo o suficiente de música pra compreender a revolução que o The Edge fez na história das guitarras. Além disso tudo, não faço o perfil de quem curte uma banda (ou qualquer outra coisa) simplesmente porque muita gente curte. Bono, eu to cagando pros seus fãs. Eu gosto de você because you give me something I can feel. Um dia em 1998, um dia em 2007, um dia ano passado, anteontem. Eu não acho o U2 melhor no começo. Foda-se a nostalgia de uma época que eu não vivi. Eu gosto de você pelo The Fly. Pela vez que você acordou de saco cheio de ser anjo, decidiu tirar uma onda e criar um personagem pra dizer pros milhões de fãs que o que você é não é segredo algum (Quantos entenderam o recado, Bono?). Gosto de você por você ter feito uma música sobre a noite que reencontrou um amante de adolescência, chifrou a esposa que você idolatra e chegou de ressaca na gravação do All That You Can’t Leave Behind - mas chegou com uma das melhores músicas do álbum. Por ser um cristão que resmunga sobre terem colocado Jesus no show business (eu sei como é, também tenho ciuminho dos meus ídolos). Por me contar que tem que ser um acrobata, pressionado a dizer uma coisa enquanto faz outra, que até você, o grande Bono, passa por isso, então eu não devo deixar the bastards grind me down. Os bastards já foram meus pais. Já foram meus colegas da escola, depois da faculdade. Já foi um chefe. Já foi um país. Graças a você, Bono, eu não deixei. Obrigada. Graças a você eu tive um dia bonito em um lugar que por um instante eu amei, mesmo sabendo que não era verdade. Você me deu a alegria de dançar na chuva comemorando a chegada do amor à cidade. Quando eu não conseguia me desapegar de um vício de jeito algum, sua voz gritando let it go, era um grande alívio na bad trip. I and I in the sky, you make me feel like I can fly. Gosto de você porque você não vai embora quando eu preciso to take a pill to stop it. Xanax, wine and U2: tchau mundo, nem bate na porta que eu não vou abrir. Gosto de você, Bono, por ter me levado pra ruas sem nome, iluminado meu caminho. Até por ter me feito rezar um salmo. Não me importa que você não saiba que eu existo. Não me importa que eu nunca vá dançar With or Without you no palco com você. Não me importa se nunca vou ser sua melhor amiga. Não precisa nada disso. Eu gosto de você e não me interessa quantas pessoas gostam. Nenhuma delas gosta pelo mesmo motivo que eu. Porque os momentos em que você está comigo só existem pra mim. Quem você é de verdade ou de mentira, o senhor Paul Hewson, marido, pai de família, cantor, poeta, músico, artista, ativista, formador de opinião, salvador da África, palestrante do TED, uma das figuras mais carismáticas, poderosas e inspiradoras do mundo, não me interessa. Eu gosto de você, Bono, porque você sou eu. E isso é algo que só eu tenho.
“I saw you in the curve of the moon
In the shadow cast across my room
You heard me in my tune
When I just heard confusion All because of you
All because of you
All because of you
I am”
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posted by Arlequina
@ 9:56 AM
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3.10.2011 |
Meu Bacanal
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"Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé, Baco!"
Mais uma vez o Arlequim retorna ao seu palco preferido, ansioso por sabores que somente lá ele pode sentir. Está tudo do jeito que ele se lembra, na memória que faz questão de guardar, independente das garrafas de Sapupara e Pau do Índio que ele vai deixando pelas ladeiras - onde vez por outra também encontra algum sucesso. Mas ali ele está tão em casa que nem precisa de muito pra cantar asneiras e fazer questão de repetir para todos ao seu redor o quanto está feliz. Talvez pela ansiedade de compartilhar essa alegria que é demais pra uma pessoa só. Talvez simplesmente porque bêbados são repetitivos. Seja qual for a razão (ou falta dela), o Arlequim faz respeitosa reverência à Olinda e Olinda faz reverência de volta. Cada uma das casinhas coloridas sorri para ele, dizendo que sentiu falta do Rei no meio daquela gente tão modesta. Evoé, Olinda! Evoé, Baco!
"Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé, Momo!"
Começou o sobe-e-desce de ladeira e o Arlequim está em cada cortejo de maracatu, misturando uma ou outra lágrima com suor, pra disfarçar a pieguice e não ser confundido com Pierrot. Mas o Arlequim não consegue evitar o choro quando vê aquele maracatu puxado por um caboclo de lança que na verdade era uma cabocla. Linda. Aquele pomposo, com rei, rainha e escravos. Aquele dos homens fortes que desfilaram à noite e tiveram que lidar com um bêbado já sem qualquer sentido, que acreditou ser uma excelente ideia roubar uma zabumba da mão do zabumbeiro no meio do bloco. Como ousa atrapalhar o desfile sagrado das zabumbas, seu idiota? A raiva durou alguns segundos, mas passou levada por um garotinho de uns 7 anos que vinha logo em seguida com seu mini-tamborim, mostrando que paixão é de nascença. Enquanto isso, uma vovó dançando numa janela era aplaudida pela multidão de admiradores da sua alegria, que continua intacta depois de uns... eu chutaria uns 80 carnavais. Evoé vovó!
Às vezes a poesia chorosa da ladeira abre alas pra irreverência. É nessa hora que passa o bloco da Turma do Rivotril (precisa explicar qual é a graça?). A troça Mulher na Vara que vem carregando uma mulher... em cima duma vara. O bloco da Mesa, que traz lá no alto - e com certo desequilíbrio - uma mesa de ferro e duas cadeiras, com um boneco de pano em uma delas e um folião de verdade em outra. Passam também os mamulengos cada vez mais surpreendentes: esse ano a Dilma subiu ladeira seguida por Barack Obama, Michael Jackson, Gene Simons com a língua de fora, Luciano Hulk e Jô Soares. Passa a menina fantasiada de casa. O cara azul de cotonete. O famoso Homem-Aranha que nunca sei se é o mesmo de todos os anos, mas vamos supor que seja porque assim é mais divertido. Os caras com a tradicional fantasia de banheiro feminino, que é manjada mas não perde a graça. O golfinho que jorra água. O ruivo lindo de Branca de Neve que joga serpentina.
No meio desses, o Arlequim desfilou dois dias à paisana, sendo reconhecido apenas por aqueles realmente íntimos do teatro e das tradições da fanfarra. Mas dois dias houveram que ele se fantasiou de pavão e saiu pavoneando ladeira acima ladeira abaixo. Foi a alegria das bichas da 13 de Maio onde, inclusive, encontrou um Ney Matogrosso que lhe cantou muito legitimamente um trecho de Pavão Misterioso. Também foi o motivo de sorrisos de crianças de toda parte e de todos os outros a favor do inusitado. Incontáveis vezes desconhecidos o pararam pra tirar fotos. E ele posava, se achando o máximo. Nada mais justo: seja qual for a fantasia, Arlequim é a celebridade do Carnaval. Evoé, Olinda! Evoé, Momo!
"Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé, Vênus!"
Mas nem todas as troças e zabumbas de Olinda se comparam à alegria de estar com a Colombina. O sorriso da Colombina, paciente com a euforia descabida de um palhaço maluco. A disposição da Colombina, dormindo pouco e subindo a ladeira mais alta de Olinda pra ouvir histórias de carnavais passados. A contradição da Colombina, que consegue ser desastrada como um Polichinelo e ao mesmo tempo delicada como uma Pierrete.
A melhor companheira com o melhor dos humores, o melhor dos abraços, a melhor das piadas. Aqueles olhões de descobridora - sempre achando tudo lindo e achando muita graça em tudo - são a maior saudade que o Carnaval deixou. Evoé, Colombina! Evoé, Venus!
(Trechos surrupiados da poesia Bacanal, de Manuel Bandeira) |
posted by Arlequina
@ 12:31 PM
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