12.21.2007 |
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Família de Elite
Eu tenho um primo que é alguma coisa do BOPE. Na verdade, é marido de uma prima minha. Eu nunca soube que ele era do BOPE até sair o filme. Sabia que ele é policial, mas não do BOPE. Soube por acaso. Quando assisti o piratão lá em casa, estava BESTIFICADA com o treinamento dos caras, me perguntando em voz alta se aquilo tudo realmente funcionava daquele jeito. No que minha mãe disse "Ah, pergunta ao Marco Antônio. Ele é do BOPE.". Que Marco Antônio, mãe? "Marco Antônio, ué, o marido da Carolina".
Sim, Marco Antônio, o marido da Carolina, era do BOPE. Acontece, meus caros, que o Marco Antônio já morreu. Foi uma história muito muito triste. Sério. Eles foram namorados por seeeéculos. Se casaram. Um ano depois, estavam todos se divertindo num domingo de praia, quando o primo caiu estatelado no chão. Morreu jogando uma pelada. Aneurisma Cerebral. Foi um desastre, claro. Ela ficou de cama, engordou, teve depressão. Se fosse eu, morria junto. Mas a Carolina é mais forte e sobreviveu. Algum tempo depois, estava namorando. Um amigo dele. Do mesmo batalhão. Coisas da vida.
O então novo namorado da Carolina trouxe alegria pra família, uma vez que ninguém aguentava mais ver a prima tão triste. Casaram, tiveram dois filhos lindos e hoje em dia têm casa na praia, carro do ano e são muito mais felizes que o casal Nascimento. Gustavo, o nome dele. Gustavo. Não é um nome difícil. Todos aprenderam muito rápido. Menos minha mãe. Que INSISTE em chamar o Gustavo de Marco Antônio.
No começo era constrangedor, mas depois ele acabou se acostumando, até que virou piada. Certa feita, minha família resolveu organizar uma festa à fantasia pra comemorar o aniversário de alguns entes. Minha prima chegou lá ARRASANDO, vestida de Cleópatra, carregando o seu Júlio Cesar a tiracolo. Assim que viu a minha mãe, já foi logo dizendo: "Olha, tia, hoje a senhora pode chamar ele de Marco Antônio! Combina com a fantasia, né! Hahaha!".
Minha família é muito, muito estranha.
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Por falar em parentes do BOPE, algumas coisas começaram a fazer sentido depois que tive essa informação. Por exemplo, o episódio do carro roubado da Carolina. Dois filha-das-puta armados deixaram a menina a pé no meio da Avenida Brasil, num lugar sem acostamento nem nada. Só que o carro tinha GPS. Aí conseguiram localizar o paradeiro do veículo no meio de uma favela. O Gustavo não pensou duas vezes: foi lá buscar o carro da mulher dele. De madrugada. Lembro que quando chegou essa notícia, eu achei um absurdo, um disparate, de uma tremenda falta de bom senso. Tudo bem que o cara era polícia, mas porra... entrar na favela de madrugada pra pegar um carro??? Desde quando polícia faz isso? Polícia quer é que o carro se foda e o seguro pague tudo depois. E o que me deixou mais confusa é que eu fui a ÚNICA da família que achou essa busca uma maluquice da cabeça do Gustavo.
Mas depois soube que o Gustavo é do BOPE... AAAAAAAAAAAAAAAAAAH, maluco, aí tudo beeem!!! Comecei logo a imaginar a cena. Será que ele subiu de farda preta? Será que ele convocou os colegas? Tipo "Pessoal, vamo subir o morro pra recuperar o carro da minha mulher que uns vagabundo pegaram. Qualquer coisa, senta o dedo nessa porra, hein. É faca na caveira!". Será que ele botou alguém no saco pra dizer onde o carro tava? Será? Será???
Só sei que eu tenho um super herói na família. E vocês não. MORRAM de inveja! :P - Nota da editora: Minha mãe leu esse texto e sei lá porquê cismou que eu tinha que trocar os nomes dos personagens, que não se bota nome de família em blog, que isso pode dar problema pro marido da minha prima. Como se os SUPER-HERÓIS do BOPE tivessem tempo de ficar lendo blog, quando vivem ocupadérrimos salvando o mundo das garras de traficantes malvados, que nem no filme. Mas tudo bem, troquei os nomes. Quem sabe esse não é mais fácil dela aprender? hehehe Mas "Marco Antônio" não dá pra trocar. Se não a história perde completamente o sentido, ué. Foi mal, mas o Marco Antônio fica. Ele já morreu, não deve se importar. Eu espero. |
posted by Arlequina
@ 9:19 AM
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12.07.2007 |
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ENFIM, ESTATÍSTICA!
Será que alguém ainda freqüenta esse blog? Se freqüenta, será que alguém reparou que eu mudei singelamente meu perfil ali do lado? Não sou mais uma "estudante de comunicação louca pra se formar". Hoje sou uma comunicóloga free lancer de vida instável que nunca sabe se vai ter como pagar as contas no fim de mês. Estou formada!
Hoje foi a minha colação de grau. Nada de beca, cerimônia, paraninfo, diploma simbólico. Nunca quis essas coisas e nunca entendi por que as pessoas querem e obrigam os amigos e familiares a comparecer em colações de grau. E gastam dinheiro com essa chatice quando poderiam comemorar alegremente numa mesa de bar. Minha colação foi no Centro de Ciências Humanas, na sala do diretor. E mesmo assim não escapei de fazer um juramento "perante a Deus e a Academia" de que exerceria minha profissão dentro da lei. Em troca, bem que Deus e a Academia podiam jurar que eu terei várias oportunidades de exercer minha profissão. Mas o mundo é injusto.
Além de mim, mais 4 aversos a cerimônias pomposas optaram por colar grau no CECH, longe de holofotes. Enquanto esperávamos, o filho de uma formanda de uns 20 anos (o filho, não a formanda) por motivos cármicos me achou simpática e resolveu puxar assunto. Queria saber no que eu estava me formando.
- Rádio e TV. - Ah, então você pode me dizer por que a Universidade não tem uma Rádio. - Na verdade tem, está em fase de implantação. - Você ajudou a construir? - Não. Não é do curso. É da Universidade. O departamento está vendo como os alunos vão participar desse processo. - Mas você estudou aí e não ajudou a fazer a rádio? - Mas ainda está em implantação! Não tem programas feitos! - Mas quem fez não foram os alunos???
Aí eu entendi o que ele estava dizendo. Sim, respeitável público, o cara achou que eu, como bacharelanda de Rádio e TV, devia saber como se CONSTRÓI uma rádio. Eu deveria ficar lá nos andaimes, dando ordem pros pedreiros, verificando as instalações técnicas, conferindo a altura da torre. Afinal de contas, é isso que estudantes de Rádio e Tv fazem, não? Constróem (e talvez até consertem), aparelhos e emissoras de Rádio e TV, ué.
- Não, querido. Não é isso que a gente faz. A gente estuda teorias de comunicação. - E precisa de Universidade pra isso é?
*Não deixa de ser uma boa pergunta*
- Vem cá, sua mãe tá se formando em quê? - Em Letras Português. - Então pergunta a ela se precisa de universidade pra isso. Afinal, todo mundo que nasce no Brasil não sabe falar português? - Ah, mas as pessoas falam mal né? E escrevem mal também.
*O cine-Pasquale que o diga*
- Pois é, as pessoas comunicam mal também. - Ué, mas eu, por exemplo, nunca fiz faculdade de comunicação e estou aqui me comunicando com você, não estou? - É mesmo, aproveita e pede pra assinar uma colação de grau também, ué. Afinal de contas, eu estou aqui há seis anos e não estou conseguindo me comunicar com você. Moça, seu filho é um prodígio, hein!
ATO CONTÍNUO, a mini-cerimônia começou, assinei meu papel e me livrei da UFS. Mês que vem chega meu diploma. Daqui pra lá, vou procurar um curso de consertos de rádio e de TV, just in case.
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posted by Arlequina
@ 11:34 AM
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12.05.2007 |
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Ato contínuo
Estou fazendo um workshop de Assistente de Direção. O professor é um cineasta respeitado que, além de ter um curriculozão nas costas, é engraçadinho, contador de histórias e conhece TODOS os babados dos bastidores do Chatô, o filme inascido do Guilherme Fontes que gerou um ESCÂNDALO histórico na indústria cinematográfica brasileira.
Certa aula, ele nos mandou um roteiro e nos incubiu de ler e levar dúvidas no dia seguinte. Li e levei dúvidas. Uma delas, era por qual motivo o roteiro parecia um conto. Ele se explicou dizendo que tinha formação literária, então gostava de escrever o roteiro mais rebuscado, ao invés de botar só as ações secas como "Fulano entra. Fulano fecha a porta. Beltrano grita. Fulano se assusta.", que é o que normalmente se faz. Ok, cada um escreve do jeito que quer e o diretor (no caso, ele mesmo) que se vire pra mostrar na tela ações como "O sangue de Omar fica gelado".
Mas o roteiro também tinha indicações de movimentos de câmera (outra coisa incomum, porém nem tanto). E alguns eu não conhecia, como stock shot. Perguntei o que eram e ele respondeu com toda boa vontade. Só que determinada cena começava com a seguinte frase "Ato contínio Omar desce a escada". E eu, pobre semi-analfabeta, achei de perguntar se "ato contínuo" era "plano-seqüencia". Fui presenteada com o troféu mobral. "É que a gente conhece muito mal a nossa língua né...", ele disse com um risinho escrotinho na carinha. Não, eu não conheço muito mal a nossa língua. Tenho uma relação até bem estreita com a nossa língua. Sei usar ponto-e-vírgula, trema e até crase. É fato que temos uns desentendimentos (nunca acerto de primeira escrever "certeza" e "faixa", por exemplo), mas no geral nos damos muito bem desde os meus tempos de criança. Conheço mal a nossa língua... Cada uma... ¬¬
Daí o cine-Pasquale novamente reforçou que tinha formação literária e, por conta disso, era influenciado por autores "tradicionais" como Machado de Assis (que, segundo ele, gosta muito de começar sentenças com "ato contínuo"). Ok, honey. Se eu estivesse lendo um livro do Machado de Assis, nunca estranharia firulas lingüísticas. Mas não sabia que existem roteiristas rebuscados que escrevem ações como "Ato contínuo Omar abre a porta ainda macambúzio, até que sente o fervor cálido do rancor incutindo suas nervuras e atira-se em um disparate".
Se bem que de cineasta deve-se esperar de tudo.
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A propósito... a história do roteiro (que não tem nadinha de Machado de Assis) é muito boa. E as aulas também são, admito. |
posted by Arlequina
@ 11:35 AM
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