3.16.2012
Galway Girl
 

É semana do Saint Patrick’s Day e a minha INCRÍVEL viagem pra Irlanda tem apertado meu coração de saudade. Esses dias andei pensando nas pessoas que conheci e nas micro-histórias que vivi, algumas como espectadora, outras como protagonista.

Cliffs of Moher
MUITO mais legal de longe, acredite.
Uma delas foi a minha passagem por Galway. Fui atraída pelas promessas de encantos irresistíveis da segunda maior cidade da Irlanda. Queria ver a estonteante beleza dos Cliffs of Moher, o charme dos pubs pequenos com rodas tipo de choro só que de folk, as tais ruas sinuosas com cara de Idade Média, a atmosfera de festa e cultura, etc e tal. O que encontrei foi um frio que me obrigou a comprar roupas novas, uma chuva fina que piorava o frio, um sol tímido que ia embora completamente às 4 da tarde e uma Downtown bem sem gracinha. Os Cliffs of Moher eram lindos, coisa e tal, principalmente vistos de dentro do centro de turismo, cujas paredes de vidro permitiam o wanderlust e ao mesmo tempo evitavam que o vento mais poderoso do universo me carregasse pra Oz.

A vista mais bonita de Galway :D
Mas os dois dias em Galway não foram de todo ruim. Além das rodas tipo de choro só que de folk serem sim, muito simpáticas, todos os pubs vendiam pint de Hoegaarden - a minha cerveja preferida - pelo módico preço de DOIS EUROS. E foi no quarto coletivo de um hostel em Galway que encontrei Emily, a francesa.

Quando entrei no quarto não vi ninguém, mas vi resquícios de que já tinha uma roommate: uma cama desfeita, muita roupa espalhada por todas as outras 5 camas feitas, maquiagem coloridíssima e outras coisinhas de moça espalhadas pelo banheiro, pacotes vazios de comida e uma garrafa cheia de vodca (ambos proibidos nos quartos, de acordo com as regras do hostel) espalhados na varanda. Entrei no banheiro pra tomar um banho quente e quando saí me deparei com a figura, que já foi estendendo a mão e me dizendo com um sotaque francês fortíssimo:

- Olá, eu sou a Emily. Estou indo a um pub e em seguida a um night club. Quer vir?

A minha resposta foi a resposta padrão de todas as viagens que faço:

- Claro. Por que não?

Era não era bonita, mas também não chegava a ser feia. Tinha uns traços árabes e um cabelo muito cacheado e desarrumado, que se agrupava num montinho meio Black Power bem estiloso. Não era assim gooorda, mas poderia ser assim, uma Brastemp, sabe como é? Um pouquinho de carne sobrando e nenhuma curva pra alinhar. Como eu sei detalhes sobre a anatomia da Emily? Porque ela saiu pela rua num frio de -2 graus e sensação térmica de WTF, usando confortavelmente sandálias de salto, calça jeans e uma blusa CURTA e TRANSPARENTE. Pois é, não satisfeita em mostrar a barriga, Emily precisava mostrar também o soutian. De renda. Roxo. Eu juro que pensei ser resistente ao frio, mas o vento de Galway e as roupas da Emily sambaram na minha cara.

No pub que ela escolheu (onde um DJ tocava hip hop e nenhuma roda tocava música irlandesa), Emily me contou que não gostava de cerveja - mas gostava que os homens pagassem drinks bem docinhos pra ela - que era de Paris, estudava Psicologia, tinha 23 anos e estava passando as férias em Galway.

- As férias INTEIRAS?

- Ouí, inteiras.

- Em Galway?

- Em Galway.

- Mas você não vai conhecer outros lugares e tal?

- Não, 15 dias seguidos aqui em Galway mesmo.

Diante da minha reação COMPLETAMENTE EMBASBACADA, Emily me explicou que se apaixonou por Galway na primeira vez que esteve lá, o halloween do ano anterior. Ela disse que foi com uns amigos e se divertiu tanto, que voltou assim que teve oportunidade pra se divertir de novo. Mesmo sem amigos, sem halloween, sem festa, sem sol e sem gostar de cerveja nem de música irlandesa. Perguntei como ela estava preenchendo os 15 dias de férias numa cidade minúscula e chuvosa. E ela me respondeu como se fosse muito óbvio: “Procurando um namorado irlandês, oras.”  e deu um gole no seu drink de morango, açúcar e vodca.


O plano de Emily era se embebedar em algum pub de música pop, partir pra uma balada de música ruim e dançar com as mãos pra cima mostrando a barriga até as 6 da manhã. Nesse meio tempo, ela procurava um homem irlandês que pagasse bebidas e a pedisse em casamento.

- Ah, eu queria um cara bem resolvido, com seu próprio flat, um emprego, e que possa pagar a minha passagem pra que eu venha pra Galway pelo menos de dois em dois meses. E que vá à Paris me visitar também, claro.

Claro. E com certeza este homem seria encontrado dando mole numa balada de Galway, doido pra casar com uma francesa maluca. Lógico. Era só uma questão de paciência.

- Mas por que você vem procurar isso EM GALWAY?

- Ah, os franceses são muito imaturos.

Como eu não tinha os mesmos objetivos da Emily e precisava acordar cedo no dia seguinte pra congelar nos Cliffs of Moher, resolvi pular o nightclub e voltar pro hostel. Emily foi sozinha mesmo.

Botei meu despertador pra tocar às 6:30 da manhã. Mas minha roommate me acordou às 6:15 chegando da balada. Ao contrário dela, o sol ainda não tinha chegado. Perguntei se ela tinha encontrado o príncipe encantado celta. Ela disse que foi SEDUZIDA por um cara que jurou ser irlandês e com alguns minutos de conversa se revelou TURCO. Mas, já que tava lá, dormiu com ele. Afinal de contas, ela ainda tinha dez dias de férias pra cumprir sua missão.

Essa foi a última vez que vi a Emily. Quando voltei dos Cliffs, já estava escuro novamente e ela já havia partido pra sua busca. No dia seguinte voltei pra Dublin antes dela chegar e fiquei sem saber se a missão marido irlandês foi cumprida.  

Eu, que nem gosto de sol, lamentei por Emily ter resolvido gastar os 15 dias das suas férias no escuro, em busca de uma viagem que não vai se repetir, sonhando em encontrar alguém que transformasse a sua vida. Na verdade, não lamentava por ela. Lamentava pelas vezes que eu mesma me joguei na escuridão, me apegando a momentos passageiros e desejando qualquer príncipe encantado pra matar o dragão do meu TÉDIO.

Agora penso em Emily e desejo de coração a mesma coisa que desejo pras minhas amigas mais queridas. Que elas tenham luz o suficiente pra iluminar a própria vida e nunca terem que andar no escuro buscando a luz alheia.


Fica com Morrighan, Emily. :)

posted by Arlequina @ 3:23 PM   0 comments
 





1.30.2012
A lenda do Ghalachau
 
Ghalachau era um duende do bem. Meio tímido, mas amigável. Gostava de música e poesia, tinha um abraço que curava, sabia fazer poções mágicas que davam o dom da alegria e eloquência a quem as tomasse e podia assumir a forma de um monstro furioso para afugentar o mal e proteger seus amigos. 

O único problema de Ghalachau era um defeito de nascença. Toda vez que era magoado, ele soltava uma fumacinha que machucava muito os olhos das pessoas ao seu redor. Por isso desde pequeno Ghalachau aprendeu que deveria evitar o máximo se irritar. Caso acontecesse, ele teria que se isolar e esperar a fumaça se dissipar irritando somente os olhos dele. Afinal de contas, a fumacinha venenosa era problema dele e de mais ninguém. 

Nem sempre era fácil lidar com essa maldição. Ghalachau tentava compensar de várias maneiras,  sendo mais tolerante com os seres encantados do que qualquer outro duende seria. Principalmente porque tinha amigos maravilhosos que faziam questão de ressaltar que, apesar do grande defeito, eles ainda conseguiam enxergar as qualidades de Ghalachau. Mesmo assim, o pobre duende não conseguia ficar em paz, pois precisava lidar com o terrível sentimento de culpa toda vez que a fumacinha escapava e feria os olhos de pessoas inocentes. 

Durante toda sua vida, Ghalachau ouviu que se não descobrisse a cura pra essa maldição acabaria sozinho e teria que morar em alguma gruta distante na floresta, onde não pudesse fazer mal aos olhos de ninguém. Mas um dia ele encheu a porra do saco e resolveu deixar a fumaça fluir, cegando todo mundo que o magoasse. Os seres encantados ficaram em polvorosa com a notícia de que Ghalachau não mais controlaria o seu terrível defeito. A maioria resolveu se afastar, indo morar em um lugar bem longe onde seus olhos não corressem perigo. Mas alguns resolveram que não abriram mão das poções mágicas de Ghalachau e decidiram ficar por perto. 

O duende ficou com menos amigos, é verdade.  Mas os que ficaram foram justamente os que evitavam magoar Ghalachau. Não por medo, mas porque eles sabiam que Ghalachau, como qualquer duende, era sensível e tinha seus limites.  Às vezes acontecia, mas eles eram conscientes de quem tinha provocado a fumaça e se desculpavam. Ghalachau, que não era de guardar rancor, se desculpava pelo inconveniente também e tudo acabava com um beijo nos olhos e um copo de poção mágica.

Moral da história: FODA-SE.   

posted by Arlequina @ 10:37 AM   0 comments
 





12.31.2011
Obrigada, 2011...
 
...por comecar com um carnaval (com direito a colombina!), por toda gente linda que veio com a Super, por resgatar uma dorzinha mal resolvida do meu passado soh pra lembrar que nunca eh tarde pra cicatrizar feridas (e que depois de cicatrizadas nem sao tao grandes assim), pela criatura mais LINDA do mundo que enche a minha vida de sorrisos todos os dias, pela consolidacao da nossa RABADA, por todos os jantares, por todas as visitas que passaram por la (principalmente por quase todas as minhas negas estarem entre essas visitas: Manu, Ju, Chris, Mari... :*!), por ter me levado a Buracaju pra rever as negas que nao foram a SP (Alinao, Loli, Dani... hehe :*), pela visita dos irmaos e da mamae (mae, te amo!), por todas as tatuagens novas que finalmente comecaram a aparecer (mae, ja disse que te amo?), pela INDESCRITIVEL emocao do show do U2, pelo show do Cruachan, pelo show do Blind Guardian, pelo show do Symphonia, pelo show do The Dubliners EM DUBLIN. Obrigada, principalmente, por esse MARAVILHOSO grand finale. Um ano assim soh poderia terminar de um jeito sensacional!

2011, seu lindo, vai com deus.
2012 vai ter um trabalhao pra te superar, mas eu vou fazer meu melhor pra que ele consiga. :) 
posted by Arlequina @ 11:33 AM   0 comments
 





10.25.2011
Pra não dizer que eu não pedi
 
Eu não quero a sua ajuda pra abrir meus olhos e desbravar o território da compreensão e da empatia. Na verdade, não é que não queira. Modéstia à parte, eu não preciso. Entender e racionalizar sentimentos alheios é um carma que me persegue. Sim, existe um  motivo profundo e pessoal que impulsiona atitudes passionais e agressivas. Todo mundo tem uma história, todo mundo tem um trauma, todo mundo tem uma ansiedade, todo mundo tem um medo. Cada um com o seu calcanhar, cada um com o seu jeito. Mas eu não quero a sua ajuda pra fins de interpretação do jeito do mundo. Interpretação do texto alheio é meu dom, é a minha especialidade. Obrigada.

Eu não quero a sua ajuda pra me dizer que eu provoco atitudes passionais e agressivas. Não há nada, absolutamente NADA que possa vir de você com o impacto de um tapa na minha cara. E não é que eu seja inabalável. Modéstia à parte, eu nem me preocupo em sê-lo. Entender e racionalizar os meus sentimentos é um carma que me persegue. Nenhum defeito meu escapa à minha minuciosa e torturante autocrítica. Eu também tenho uma história, eu também tenho um trauma, eu também tenho uma ansiedade, eu também tenho um medo. Se pisarem no meu calcanhar, eu vou gritar do meu jeito. Eu sei que você acha exagero, mas recitar meu próprio texto não é um dom, nunca foi minha especialidade e provavelmente nunca vai ser. Mas obrigada.

O que eu quero mesmo é um lugar pra chorar quando atitudes passionais e agressivas dos outros me atingem mais do que as epifanias desnecessárias que você me oferece. Tendo eu provocado ou não, tendo eu merecido ou não.

Eu só quero chorar e espernear que nem criança e depois pegar no sono, sem ninguém me acordar.

Eu só preciso do seu colo. E isso você nunca me trouxe.

posted by Arlequina @ 4:13 PM   0 comments
 





6.01.2011
Não tem que
 
São Paulo fica impraticável quando chove. Isso é facto de conhecimento geral da nação. Fica impraticável pra todo e qualquer ser que precise se deslocar, seja de buzão, metrô, moto, até de helicóptero é impraticável. Mas na primeira chuva que peguei como moradora oficial da cidade, não pude me furtar de comentar o óbvio com um conhecido: “Tá foda se deslocar né?” No que ele me responde: Você vai ver só quando tiver um carro. 

Os absurdos dessa declaração são tantos que nem sei por onde começar. Vamos ao mais gritante. Quando eu tiver um carro? QUANDO eu tiver um carro? Como assim QUANDO eu tiver um carro? Tipo... Não existe a possibilidade de eu NAO ter um carro? Simplesmente porque eu NAO QUERO ter um carro? Não posso não querer pagar IPVA, combustível, seguro, os estacionamentos mais caros do universo, ficar horas parada no trânsito, bater boca com motoboy, bater boca com flanelinha, bater boca com outros motoristas e, o pior de tudo: eu não posso querer dispensar o stress de desviar de enchente pra que meu carro não seja levado. Não posso. Porque quando eu tiver um carro, aí sim eu vou ver como é difícil morar aqui. 

Toda vez que eu escuto esses “tem que” das pessoas, a forma assustadoramente espontânea com que elas dizem isso faz com que eu me belisque e me questione se estou vivendo na realidade certa. Celular tem que ser Iphone 4? Faculdade tem que ser Direito? Concurso tem que ser público? Filme tem que ser Cinemark? Roupa tem que ser shopping? Cerveja tem que ser Vila Madalena? Noite tem que ser 50 reais com nome na lista? Comer fora tem que ser lista de espera? Sobrancelha tem que ser design? Unha tem que ser esmalte importado? Viajar tem que ser avião? Buenos Aires tem que ser tango? Rio tem que ser Copa? Mochilão tem que ser Europa? Europa tem que ser Paris?


Não critico os luxos de ninguém, longe de mim. Até porque eu sou bem mão aberta e minha vida perde o sentido se faltarem algumas coisinhas medíocres cujo valor só eu entendo. Acontece que eu não saio por aí impondo meus luxos como verdade absoluta que deveriam guiar os desejos da humanidade. Eu admito que outras pessoas vivam de maneira diferente porque elas optaram viver assim. E só lamento essa comum dificuldade de enxergar possibilidades na existência.

Aliás, lamentar eu lamento MESMO quando to indo embora e me perguntam onde meu carro tá estacionado. Poderia responder “Ta dentro do seu cu.” Mas sou fina demais pra isso. Mesmo a pé.  
posted by Arlequina @ 11:30 AM   3 comments
 





5.18.2011
Para o meu amor invisível número 1
 
Hoje eu quero dormir abraçando todas as melhores e as piores lembranças que eu tenho de você. Elas nunca me deixaram, na verdade. Desde que te conheci numa rodoviária eu já fui a muitos lugares, mas elas sempre vieram comigo. Não vou dizer que é involuntário. Não subestimo assim a minha vontade. Elas vêm comigo porque eu quero traze-las. Porque elas são uma parte tão grande do que eu sou, que eu não conseguiria deixa-las no caminho.

Hoje eu quero dormir abraçando as melhores e as piores lembranças de você porque elas me divertem. Eu lembro que te idolatrei e acho graça. Lembro que pedi, implorei, exigi de você o que você não me dava simplesmente porque não tinha. E morro de achar graça do que agora é tão óbvio. Lembro do altar que fiz pra você e do desespero que eu sentia ao olhar pra ele e vê-lo vazio. Um altar, veja só. Duas crianças. Uma só sabia amar machucando e outra só sabia amar sofrendo. Deu certo enquanto foi assim. Deu certo até que eu começasse a achar graça.

Hoje eu quero dormir abraçando as melhores e as piores lembranças de você, só pra sentir o prazer de saber que tudo mudou. Eu vejo seus defeitos e eles não me pesam, não me machucam, sequer me incomodam. Agora que você não é meu ídolo, você já pode ter defeitos. Agora que tenho tanta vida, você não precisa me chamar pra sua. Eu não espero nada de você. Eu não quero nada de você. Eu não preciso de você.

Mas hoje eu quero dormir abraçando as melhores e as piores lembranças de você porque, a despeito de qualquer mudança de texto, roteiro e cenário, apenas três coisas continuam exatamente como eu me lembro:

1. Eu sempre vou amar você.
2. Eu queria que você estivesse aqui.
3. Você nunca vai estar.
posted by Arlequina @ 8:46 PM   3 comments
 





4.30.2011
Insensível
 
Eu amo. Amo muito. Amo intensamente e sofro e passa. Amo tanto, que faço questão de amar o etéreo, só pra ter a certeza de que vai acabar a tempo de amar pra sempre, de todas as maneiras que puder, com todas as possibilidades que tiver.

Eu amo demais pra perder tempo.
posted by Arlequina @ 10:52 AM   2 comments
 





4.14.2011
You know I go crazy if I don’t go crazy tonight – Parte 2
 
Ao sair do show no sábado, estava decidida a me posicionar na pista do show de domingo a uma distância do Bono suficiente para que o suor dele pingasse em mim.  Primeiro pensei em ficar direto na fila. Dormir é pros fracos. Depois achei que um cochilinho não mataria e que precisaria de comida pra aguentar mais um dia da maratona fã histérica. Precisaria, principalmente, do ingresso de domingo, que estava em casa. Ok, voltei, preparei tudo e dormi com despertador ajustado pra 4:40 da manhã. Acordei irritada, mal humorada, cansada, detonada. Não se vai a um show do U2 nesse estado de espírito. Decidi dormir até o corpo e a ansiedade entrarem em um acordo. Acordei às 7, saí de casa às 8 e cheguei lá às 9, sem esperança de entrar no Inner Circle (a área vip que não é vip), mas pelo menos pegaria um lugar ok. Aí conheci Aline, a carioca legalzona que estava na fila logo na minha frente. Ela me revelou o grande engodo da necessidade de acampar semanas pra entrar no Circle, visto que tinha ido ao show no dia anterior também, chegou às 9 e ficou a uma distância do The Edge (ela era fã do The Edge) suficiente para que o suor dele pingasse nela. Eis que a CHAMA DA ESPERANÇA se reacende.

 10/04/2010 – MEET ME IN THE SOUND!

Como eu passaria pelo menos umas 10 horas na companhia daquelas pessoas, tratei de suprimir minha falta de habilidade social e fazer novos AMIGOS. Além da Aline, conheci um casal que tinha U2 como trilha sonora do amor deles. Ooown. Conheci Carol, uma fã quase quarentona que trazia várias informações irrelevantes sobre o Bono e me causava uma sensação perturbadora de “eu sou você amanhã.” Graças a ela, descobri que o Bono não usa cueca, tem medo de altura e uma amante em Buenos Aires (?). Conheci a única fã do Adam Clayton do mundo (na moral, QUEM é fã do baixista?) e uma piriguete que era doida pelo U2 porque o baterista é bonito. Não acho legítimo, mas cada um que sabe o que idolatra, não é minha gente? Enquanto isso, minha amiga Pipoca lutava contra o mau humor, muito de saco cheio do papo de fã e certamente desejando a minha MORTE por praticamente tê-la obrigado a me fazer companhia na empreitada. E eu estava me divertindo.

Eu tava ali!
Até que o tempo passou rapidinho.  Quando me dei conta, a fila quilométrica já tava andando e o meu estômago acompanhava o caminhar com um incrível movimento de rotação. Aline tinha instruído a gente: chega de bolsa aberta e ingresso na mão, facilita a revista e, uma vez lá dentro, CORRA. Foi o que eu fiz. Corri como se não houvesse amanhã. Os seguranças faziam barreiras e pediam pra ter calma. Foda-se a calma, eu tava running to stand still na frente do Bono, caralho! Cheguei. CHEGUEEEEEEEEEEI! Entrei no círculo, me inslatei na frente do palco E GRITEI! Em seguida achei Pipoca e Aline (corrida é independente, foi mal) e fiquei chateada por minhas outras companheiras de fila não terem encontrado o caminho mágico da entrada do Inner Circle. Mas agora seria eu e Bono, Bono e eu. E as outras 3.500 pessoas que cabiam naquela área.

Vamos pular as cinco horas de espera, com chuva, com frio, sem espaço, sem água (DEUS ME LIVRE ter vontade de fazer xixi no meio do show. Deus me livre!) e dividindo território com babacas. Babacas surtados por terem passado sei lá quanto tempo acampando no Morumbi e por isso brigavam com o segurança, com o vendedor de água, entre si, esquecendo completamente o que nós estávamos ali pra ver. Bono, não me confunda com aqueles babacas. Não confunda a Aline. Nós somos crias do U2 de verdade. E acredito que a maioria ali também era. Pulemos os babacas então.

Vamos direto pra parte em que eles entram no palco e eu entro em transe. O Bono tá na minha frente. O Bono tá na minha frente. O Bono tá cantando Let me be your lover tonight. Na minha frente. The real thing. Logo em seguida, vem a primeira surpresa. Eles anunciam que é uma ocasião especial, então cantariam uma música especial. E começa nada menos que OUT OF CONTROL. Uma música do PRIMEIRO ALBUM (e que não era a chatíssima I Will Follow). Foi a hora que acordei do transe e olhei pros lados, querendo saber se aquilo era verdade ou se tava delirando. Outros fãs se encaravam com a mesma expressão. Um jogral de exclamações começava. PUTA QUE O PARIU, É OUT OF CONTROL!!! Eu me lembro a letra e todos aqueles que lembravam se tornavam automaticamente meus melhores amigos. Eu tava vendo U2 cantar Out of Control. Na minha frente. Depois fui parte do coro escandaloso gritando LET ME IN THE SOUND e não me enche o saco. Aí vem a hora das passarelas móveis. The Edge sobe em uma e o Bono em outra. Adam e Larry passeiam pela passarela fixa. Eu não sei pra que lado estico meu pescoço. E o The Edge passa por cima de mim. Olha, muita coisa pode acontecer nessa vida, mas NADA terá condição de superar esse fato: o The Edge passou por cima de mim. Enquanto isso, o Bono passava ao lado. A banda toda passava em volta de mim. O U2. Em volta de mim. Na minha frente, em cima, atrás, por todo lugar. Comecei a chorar e achei que nunca mais fosse parar. Tocaram música nova. A gente já sabia a letra. Tocaram Miss Sarajevo. A gente sabia a letra. De repente o palco megalomaníaco se encheu de luzes que esconderam o Bono. Ele cantou Zooropa.

ELE CANTOU ZOOROPA! Pela PRIMEIRA VEZ na história dos shows do U2 eles tocaram ZOOROPA! PUTA QUE PARIU, ERA ZOOROPA!

What do you want? What do you want? Watch your spell. Let’s go to the overground. She’s gonna dream up the world she’s going to live in. SHE’S GONNA DREAM OUT LOUD!

Era ele. O Bono. Lembrando o lema da minha vida que tantas vezes eu chego perto de esquecer. Lembrando ao vivo. Lembrando de maneira que nunca mais vou esquecer de novo. O que você quer? O que eu quero? I will dream out loud. I’ll always dream out loud the world I’m going to live in. E não vou admitir que me mandem calar a boca. Obrigada, Bono. Obrigada.

Obrigada também por Ultraviolet. Obrigada por One. Obrigada por Walk On. Obrigada por Moment of Surrender – e dessa vez uma das luzes de celular era minha. Obrigada por eu ter saído do Morumbi com a sensação de que renovei os votos com a minha vida. Com o que penso do mundo. Com a maneira que eu acredito que ele deve ser. Me questionando sobre o que posso fazer de melhor. Obrigada pela diversão, pela alegria, por tantos anos de colo. Obrigada, U2. Obrigada.

Acho que quase ninguém vai ler esses três últimos textos na íntegra. Eu sei que fui repetitiva, mas quero me agarrar a cada momento desse episódio. Desde a dificuldade de conseguir ingresso, a ansiedade, as filas, o ver de fora, o ver de dentro, o depois, o agora. Não quero perder um segundo que seja dessa emoção.

Não é racional, não é inteligente, não é explicável. Ter ídolos não é coisa de gente mentalmente saudável e bem resolvida. FODA-SE. Eu desejo de coração que todos vocês possam um dia experimentar uma paixão como essa. Sem condição, sem fins lucrativos, sem ponto fraco. Eu desejo MESMO que vocês tenham uma trilha sonora na vida e tenham a sorte de escutá-la ao vivo. Que sejam capazes de se emocionar com música e poesia. Que sejam inspiráveis.

All because of you, I am. 

posted by Arlequina @ 12:20 PM   12 comments
 





4.11.2011
You know I go crazy if I don’t go crazy tonight - Parte 1
 
Todo mundo sabe o desespero que foi comprar ingresso pro show do U2, qualquer que fosse o setor. Quando eu recebi a ligação da minha amiga dizendo que o namorado dela tinha três cadeiras cativas no Morumbi, fiquei tão nervosa que fiz xixi nas calças. É sério. Tudo bem que o Bono não me alcançaria nos camarotes pra me chamar pro palco, mas eu estaria lá e isso bastava.

Mas uma semana antes do show despiroquei e cismei que iria na pista também, custasse o que custasse. Mentira, botei um limite de preço aceitável, justo e cabível e fui ao site do fã-clube tentar a sorte, buscando algum fã do U2 de verdade com ingresso disponível que não quisesse arrancar meu couro. E ACHEI. Com dois ingressos na mão, foi só morrer de ansiedade e aguardar o que prometia ser o melhor fim de semana da minha vida.

Pra não ficar cansativo, vou contar em duas partes. Se você não gosta de U2, foda-se. Vou passar muito tempo da minha vida falando só disso, nem que tenha que falar sozinha e perder todos os meus amigos. Beijos. :P

09/04/2010 – MAGNIFICENT!

Tudo que eu sabia sobre fila desse tipo de show é que o CAOS REINA. Ouvi falar de gente acampando lá desde SEGUNDA pro show DE DOMINGO. A histeria me contagiou a ponto de eu ficar com medinho de não conseguir pegar um lugar bom nas cadeiras especiais. Aliás, eu não queria um lugar bom. Espero por esse momento há pelo menos uns 15 anos, então eu queria o melhor lugar do universo. Meio-dia tava lá, inclusive pra ver o oba oba das filas e conhecer alguns fãs desesperados que fizessem com que eu me sentisse menos babaca. Além de um esperado cover do Bono, encontrei uma menina fantasiada de The Edge. Encontrei também um pessoal usando camisas escritas LARRY MULLEN BAND. Sabe o que é Larry Mullen Band? Foi o primeiro nome que a banda teve em 76, durante MESES, antes de se chamar U2. E preciso confessar que foi bem legal trocar um olhar de cumplicidade com essa galera tipo “To ligada na de vocês, hein!” Me senti um irmão de maçonaria fazendo cumprimento secreto.

Bem, o portão abriu, a perna tremeu e a gente entrou. Me instalei confortavelmente no lugar mais próximo do palco e esperei o tempo que não passava nunca. Vamos pular a parte que passei mal de ansiedade, tremi dos pés à cabeça, tive todas as necessidades fisiológicas possíveis e até inventei umas novas. Vamos pular também a parte que um casal apareceu do nada querendo que eu dividisse o meu lugar com eles, o meu lugar TÃO LINDO que eu cheguei milhões de horas antes pra conseguir. Claro que disse que NÃO e claro que eles quiseram se vingar e colaram um chiclete na minha cadeira. Passei o show com um chiclete na bunda. Vamos pular o show do Muse, que é até legal, mas não é U2.

Vamos direto pra parte que o portão da pista abriu e a galera entrou correndo DESESPERADA pra conseguir ficar no Inner Circle. Não sei se vocês sabem, mas show do U2 não tem área VIP. Eu não sabia e quando soube não acreditei. O Inner Circle é um lugar com quantidade de gente limitada, mas faz parte da pista. Pra ficar lá na frente lambendo a bota do Bono, basta simplesmente chegar cedo. Bom, “chegar cedo” é uma coisa meio relativa numa fila com gente que acampa uma semana, mas não se paga um real a mais por isso. A emoção de quem conseguia entrar no círculo se espalhava pelo estádio inteiro. A galera comemorava não só a própria chegada, mas a de todo mundo que entrava. Parecia gol do Brasil em Copa. :) Decidi que era ali que eu estaria no dia seguinte, mas deixei pra planejar isso depois se não ia acabar me jogando lá em baixo de ansiedade.

Daí começou o show.


Essa é a parte que eu travo e nem sei direito o que escrever. Eu fiquei muito nervosa, muito besta, muito EMBASBACADA. Tinha um show do U2 acontecendo e eu estava nele. Lembrei do quanto eu chorei, aos 15 anos de idade, por meu pai não ter me deixado ir ao Pop Mart, o primeiro show deles no Brasil. Lembrei do quanto me arrependi por não ter ido ao Vertigo em 2006, pra dar prioridade pra um namorado que de maneira nenhuma merecia essa minha frustração. Lembrei de quantas e quantas vezes chorei sozinha no quarto por tantos motivos diferentes, tendo o Bono como companhia. Lembrei de tantos momentos que U2 foi trilha sonora da minha vida. E enquanto lembrava disso tudo... chorava mais. Todo mundo sentadinho bonitinho nas cadeiras especiais, assistindo o show civilizadamente, e eu era a única louca, histérica, chorona, descontrolada. Me orgulho de mim.

E ver aquele palco, aquela produção toda... gente. O estômago tá doendo só de pensar. Parecia uma evolução da nave da Xuxa de tão exagerado e pirotécnico.  Lindo. Sempre achei babaquice artista que decora uma ou outra palavrinha em português pra fazer graça, mas o Bono falando “pizza de jaca” e “balada” foi lindo. Toda e qualquer coisa que ele fizesse eu achava lindo.


E o set list, meu deus... Ahhh o setlist... Por mais que já tivesse escutado Miss Sarajevo, nada se compara à emoção de ouvir aquilo ao vivo. Por mais previsível que fosse, não deu pra não ficar de cara com o telão passando os nomes das crianças que morreram no Rio enquanto o estádio inteiro era iluminado apenas com luzes dos celulares da galera. Beautiful Day, a música que conseguiu transformar um ano inteiro em um dia realmente lindo da minha vida, ali, ao vivo, a cores. One, Misterios Ways, Until the End of the World, Even Better than the Real Thing, toodas as minhas músicas preferidas do meu album preferido AAAAAAAAH!

Saí com o “ooooô oooô” de Moment Of Surrender na cabeça e uma sensação estranha, bem estranha. Meio deslumbrada, confusa, até com dificuldade de lembrar alguns pedaços do show. Tava feliz e triste ao mesmo tempo, muito emocionada, muito encantada. Parecia que tinha sido tudo um sonho. E o melhor: no dia seguinte sonharia de novo.

Ver o palco inteiro foi bem legal, mas preciso confessar que o melhor de tudo era saber que em breve eu estaria lá em baixo. Não adianta, fã não pode assistir apenas. Fã tem que SER o show. E a ansiedade recomeça. 
posted by Arlequina @ 3:10 PM   5 comments
 





3.28.2011
All because of U2
 
(ou: Como ser fã da maior e mais certinha banda pop do mundo e manter-se uma chata individualista)

Bono, se for parar pra ver, realmente não faz sentido eu ser fã da sua banda. Nunca fui militante de nada. Nunca dei grandes importâncias pros famintos da África. To nem aí pro Martin Luther King. Não me comovo com aviões ingleses soltando bomba na Irlanda num domingo sangrento qualquer. Nem entendo o suficiente de música pra compreender a revolução que o The Edge fez na história das guitarras. Além disso tudo, não faço o perfil de quem curte uma banda (ou qualquer outra coisa) simplesmente porque muita gente curte. Bono, eu to cagando pros seus fãs.

Eu gosto de você because you give me something I can feel. Um dia em 1998, um dia em 2007, um dia ano passado, anteontem. Eu não acho o U2 melhor no começo. Foda-se a nostalgia de uma época que eu não vivi. Eu gosto de você pelo The Fly. Pela vez que você acordou de saco cheio de ser anjo, decidiu tirar uma onda e criar um personagem pra dizer pros milhões de fãs que o que você é não é segredo algum (Quantos entenderam o recado, Bono?). Gosto de você por você ter feito uma música sobre a noite que reencontrou um amante de adolescência, chifrou a esposa que você idolatra e chegou de ressaca na gravação do All That You Can’t Leave Behind - mas chegou com uma das melhores músicas do álbum. Por ser um cristão que resmunga sobre terem colocado Jesus no show business (eu sei como é, também tenho ciuminho dos meus ídolos). Por me contar que tem que ser um acrobata, pressionado a dizer uma coisa enquanto faz outra, que até você, o grande Bono, passa por isso, então eu não devo deixar the bastards grind me down. Os bastards já foram meus pais. Já foram meus colegas da escola, depois da faculdade. Já foi um chefe.  Já foi um país. Graças a você, Bono, eu não deixei. Obrigada.

Graças a você eu tive um dia bonito em um lugar que por um instante eu amei, mesmo sabendo que não era verdade. Você me deu a alegria de dançar na chuva comemorando a chegada do amor à cidade. Quando eu não conseguia me desapegar de um vício de jeito algum, sua voz gritando let it go, era um grande alívio na bad trip. I and I in the sky, you make me feel like I can fly. Gosto de você porque você não vai embora quando eu preciso to take a pill to stop it. Xanax, wine and U2: tchau mundo, nem bate na porta que eu não vou abrir. Gosto de você, Bono, por ter me levado pra ruas sem nome, iluminado meu caminho. Até por ter me feito rezar um salmo. 

Não me importa que você não saiba que eu existo. Não me importa que eu nunca vá dançar With or Without you no palco com você. Não me importa se nunca vou ser sua melhor amiga. Não precisa nada disso. Eu gosto de você e não me interessa quantas pessoas gostam. Nenhuma delas gosta pelo mesmo motivo que eu. Porque os momentos em que você está comigo só existem pra mim. Quem você é de verdade ou de mentira, o senhor Paul Hewson, marido, pai de família, cantor, poeta, músico, artista, ativista, formador de opinião, salvador da África, palestrante do TED, uma das figuras mais carismáticas, poderosas e inspiradoras do mundo, não me interessa.

Eu gosto de você, Bono, porque você sou eu. E isso é algo que só eu tenho.

“I saw you in the curve of the moon
In the shadow cast across my room
You heard me in my tune
When I just heard confusion
All because of you
All because of you
All because of you
I am

posted by Arlequina @ 9:56 AM   3 comments
 





3.10.2011
Meu Bacanal
 
"Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé, Baco!"

Mais uma vez o Arlequim retorna ao seu palco preferido, ansioso por sabores que somente lá ele pode sentir. Está tudo do jeito que ele se lembra, na memória que faz questão de guardar, independente das garrafas de Sapupara e Pau do Índio que ele vai deixando pelas ladeiras - onde vez por outra também encontra algum sucesso. Mas ali ele está tão em casa que nem precisa de muito pra cantar asneiras e fazer questão de repetir para todos ao seu redor o quanto está feliz. Talvez pela ansiedade de compartilhar essa alegria que é demais pra uma pessoa só. Talvez simplesmente porque bêbados são repetitivos. Seja qual for a razão (ou falta dela), o Arlequim faz respeitosa reverência à Olinda e Olinda faz reverência de volta. Cada uma das casinhas coloridas sorri para ele, dizendo que sentiu falta do Rei no meio daquela gente tão modesta. Evoé, Olinda! Evoé, Baco!


"Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé, Momo!"

Começou o sobe-e-desce de ladeira e o Arlequim está em cada cortejo de maracatu, misturando uma ou outra lágrima com suor, pra disfarçar a pieguice e não ser confundido com Pierrot. Mas o Arlequim não consegue evitar o choro quando vê aquele maracatu puxado por um caboclo de lança que na verdade era uma cabocla. Linda. Aquele pomposo, com rei, rainha e escravos. Aquele dos homens fortes que desfilaram à noite e tiveram que lidar com um bêbado já sem qualquer sentido, que acreditou ser uma excelente ideia roubar uma zabumba da mão do zabumbeiro no meio do bloco. Como ousa atrapalhar o desfile sagrado das zabumbas, seu idiota? A raiva durou alguns segundos, mas passou levada por um garotinho de uns 7 anos que vinha logo em seguida com seu mini-tamborim, mostrando que paixão é de nascença. Enquanto isso, uma vovó dançando numa janela era aplaudida pela multidão de admiradores da sua alegria, que continua intacta depois de uns... eu chutaria uns 80 carnavais. Evoé vovó!

Às vezes a poesia chorosa da ladeira abre alas pra irreverência. É nessa hora que passa o bloco da Turma do Rivotril (precisa explicar qual é a graça?). A troça Mulher na Vara que vem carregando uma mulher... em cima duma vara. O bloco da Mesa, que traz lá no alto - e com certo desequilíbrio - uma mesa de ferro e duas cadeiras, com um boneco de pano em uma delas e um folião de verdade em outra. Passam também os mamulengos cada vez mais surpreendentes: esse ano a Dilma subiu ladeira seguida por Barack Obama, Michael Jackson, Gene Simons com a língua de fora, Luciano Hulk e Jô Soares. Passa a menina fantasiada de casa. O cara azul de cotonete. O famoso Homem-Aranha que nunca sei se é o mesmo de todos os anos, mas vamos supor que seja porque assim é mais divertido. Os caras com a tradicional fantasia de banheiro feminino, que é manjada mas não perde a graça. O golfinho que jorra água. O ruivo lindo de Branca de Neve que joga serpentina.

No meio desses, o Arlequim desfilou dois dias à paisana, sendo reconhecido apenas por aqueles realmente íntimos do teatro e das tradições da fanfarra. Mas dois dias houveram que ele se fantasiou de pavão e saiu pavoneando ladeira acima ladeira abaixo. Foi a alegria das bichas da 13 de Maio onde, inclusive, encontrou um Ney Matogrosso que lhe cantou muito legitimamente um trecho de Pavão Misterioso. Também foi o motivo de sorrisos de crianças de toda parte e de todos os outros a favor do inusitado. Incontáveis vezes desconhecidos o pararam pra tirar fotos. E ele posava, se achando o máximo. Nada mais justo: seja qual for a fantasia, Arlequim é a celebridade do Carnaval. Evoé, Olinda! Evoé, Momo!


"Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé, Vênus!"

Mas nem todas as troças e zabumbas de Olinda se comparam à alegria de estar com a Colombina. O sorriso da Colombina, paciente com a euforia descabida de um palhaço maluco. A disposição da Colombina, dormindo pouco e subindo a ladeira mais alta de Olinda pra ouvir histórias de carnavais passados. A contradição da Colombina, que consegue ser desastrada como um Polichinelo e ao mesmo tempo delicada como uma Pierrete.

A melhor companheira com o melhor dos humores, o melhor dos abraços, a melhor das piadas. Aqueles olhões de descobridora - sempre achando tudo lindo e achando muita graça em tudo - são a maior saudade que o Carnaval deixou. Evoé, Colombina! Evoé, Venus!

(Trechos surrupiados da poesia Bacanal, de Manuel Bandeira)
posted by Arlequina @ 12:31 PM   1 comments
 





2.28.2011
Livro aberto
 
Tem gente que gosta de viver romance. E passa metade da vida a espera de uma grande história romântica pra chamar de sua e que dure a outra metade até pra sempre. Acho bonito, sou a favor do romance no mundo. Mas eu vivo contos e vou explicar por que.

Romance tem muitas páginas, é linear e, se não for muito bem escrito, pode ficar enfadonho. Já o conto, mesmo quando é chatinho, eu sei que dificilmente passa da página 32. Tem romance que realmente não acaba, então você já sabe o final. Pra mim, saber o final é sem graça. Tem romance que acaba e eu já sabia que esse seria o final. Sem graça. Tem romance que acaba de surpresa e não tem como isso não ser frustrante. Não lido bem com frustração.

Contos não precisam ter lição de moral. Pode vir com uma grande ironia da vida e virar crônica, que é divertido. Pode terminar mal, ou terminar de surpresa também, mas quem se importa, foi só um conto, depois tem mais. Pode às vezes emendar com outro conto e ficar meio confuso, é preciso certo equilíbrio. Pode também parecer que é conto meu e ser de outra pessoa. Aí dói um pouco, mas o romance também não tá livre desse porém.

Minha vida é um livro de contos. De carnaval, de viagens, de fins-de-semana, de ano novo. Eu juro que faço o máximo pra eles serem divertidos e leves, às vezes até românticos - mas sem o peso de um romance, sabe? Nem sempre dá certo, mas é assim que eu vivo.

Aí vem você que, ao invés de se preocupar em escrever a porra do seu romance, quer dar uma de crítico sobre o meu estilo literário. Eu vou te mandar desentrosar, sabe por que? Não é nem pelo fato da história ser minha e eu ter o direito de escrevê-la do jeito que eu quiser. Também nem é por ser chato pra caralho gente me dizendo verdades sobre a minha vida. É porque, seu besta, caso você não tenha se tocado, meus contos também dependem da existência de outros personagens, que nem o seu romance. Então não precisa se ofender, porque eu sou tão carente quanto você. Se um dia eu começar a escrever monólogo, mas um monólogo que não seja amargo nem enfadonho... se um dia eu começar a escrever monólogos divertidos e felizes, como só os gênios sabem fazer, aí sim você pode se irritar comigo. Porque auto-suficiência no livro dos outros é sempre muito irritante. E é só isso que eu invejo.   
posted by Arlequina @ 5:02 PM   2 comments
 





2.23.2011
Amor é outra coisa
 
Assim como a grande maioria das pessoas que conheço, tive uma criação cristã e uma mãe dramática. Mas, ao contrário da maioria dos brasileiros, sou privilegiada por nunca ter precisado viver com menos que o necessário. Mesmo assim cresci questionando a disposição das peças no mundo que me cerca. Por um momento deixei me convencerem que caridade e submissão fariam de mim uma pessoa melhor. Paciência era uma virtude que eu precisava desenvolver. Nasci egoísta e isso era um crime pelo qual precisava pagar.

Um dia Dogville chegou a mim. E nele eu vi muito mais do que uma revolução estética. Eu vi Grace... e nela me vi. Querendo consertar o mundo e sendo engolida pela minha própria arrogância, por me acreditar ser capaz de assumir essa responsabilidade. Grace e seu pai vieram me contar que culpa não é bondade e não se conserta as pessoas estimulando o que elas têm de pior. Aliás, não se conserta pessoas. Elas não são problema meu.

Em uma entrevista sobre outra de suas criações, Lars Von Trier declarou que ele é o melhor diretor do mundo, já Deus, ele não estava certo de ser o melhor deus. Bem, não sei nada sobre Deus, mas é a Lars Von Trier que agradeço por ter me absolvido da culpa de ser humana. E não ter receio de, quando eu achar que for preciso, matar a todos e queimar a cidade.

Dogville fez de mim uma pessoa diferente. Se melhor ou pior, depende do ponto de vista. Só sei que to precisando assistir de novo. 


posted by Arlequina @ 2:46 PM   3 comments
 





1.17.2011
digno de nota
 
O textículo "eu só queria dizer uma coisa" ganhou um comentário tão legal que preciso dar o devido destaque:

At 7:44 PMBlogger Herman Hesse said…
eu só te digo uma coisa:
eu num lhe digo é nada!!

ó e ainda te digo mais!
é só isso que eu te digo se ligou?

sonhei com você estes dias.
tinha uma galera tipo num shopping num mcdonalds ou algo do tipo. Nielly me chamou e me disse que vc queria falar comigo.

Você me disse que já não conseguia tirar mais uma roupa de beata preta porque os pelos (por todo seu corpo) já não deixavam; era como se estivem enganchados e consolidados com a roupa.

Acho que você vai virar um bixo desses dos planos astrais inferiores tipo uma lobismulher.

Mas foi isso que você sempre buscou na sua vida. Ou pra proxima :)
A magia é tudo uma só; o que é do ocultismo é do universo também.

Mas fique esperta porque os crentes vão te encher o saco esse ano.


Gente, vejam só. Os ocultistas de shopping que enfeitaram uma parte da minha adolescência ainda lembram de mim e, pasmem!, SONHAM COMIGO!

Ah, pra quem não sabe, tenho um passado negro. Não negro de vergonhoso *pigarro* mas de MAU que nem o pica pau. Eu era uma adolescente metaleira revolucionária estudante de ocultismo que discutia teorias de Aleister Crowley nas mesinhas em frente ao Mc Donalds do Shopping Jardins.

Não sei se já cheguei a uma próxima vida ou virei lobismulher dos planos astrais inferiores (seria São Paulo um plano astral inferior?), mas certamente a vida adolescente já passou. Pelo visto meus amigos magistas conseguiram descobrir o segredo do tempo e se deram ao trabalho de vir me visitar aqui no futuro! :)

Saudações 93 pra vocês!
(e se você não entendeu, é porque não é TRUE)

Manda um beijo pra Nielly. Seja lá quem ela for.

Tio Crowley tá de olho




posted by Arlequina @ 9:20 PM   5 comments
 





1.13.2011
mamãe ama meu revólver
 
mamãe diz:
 por quem vc está tão amarga p escrever aquilo no seu blog?
deb diz:
 nao to amarga nao
mamãe diz:
 então q é aquilo???
 passa isso p quem lê!!
deb diz:
 nem tudo é cor de rosa na vida ne
mamãe diz:
 nunca me acostumo com sua racionalidade emocional!!
deb diz:
 nem eu hehe
mamãe diz:
 vc é mais razão q emoção!!!  mais comum nos homens!
deb diz:
 pois é... onde foi que voces erraram? hahaha

-

Minha amiga-terapeuta-taróloga-astróloga Mari, escreveu o outro lado da moeda (que - contradições à parte - eu conheço muito bem). A quem interessar possa...  http://loveasatether.wordpress.com/2011/01/12/e-se-as-pedras-falassem/

-

E esse blog voltará às suas atividades normais em breve. Carnaval tá chegando aê pra matar o existencialismo de calor nas ladeiras de OLINDA.

beijo
posted by Arlequina @ 9:47 AM   1 comments
 




il libretto

 

Rss


"Em qualquer terra em que os homens amem. 
 Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
 
                                                        Na vida."

Máscaras - Menotti del Picchia

 

outros palhaços

 

Ai Minha Santa Aquerupita!
By Julia
Meu Melhor Amigo Gay
Quero te pegar sóbrio
Cara de Milho
Humano e Patético
Bodega da Loli
Café e Cigarros
Flor de Hospital
Diário de Trabalho
Homem é Tudo Palhaço
Vida Bizarra
A Casa das Mil Portas

 

clap

 

Opera Bufa
Desenblogue
Pérolas para porcos
Piores Briefings do Mundo
Malvados
Vida Besta
Omelete
Danilo Gentili
Wagner & Beethoven
Ryotiras
Vai trabalhar, vagabundo!
Follow the Colours
Design On The Rocks
Puta Sacada
4P
Anões em Chamas
Kibe Loco

 

o carnaval que passou


julho 2005

agosto 2005

setembro 2005

outubro 2005

novembro 2005

dezembro 2005

janeiro 2006

fevereiro 2006

março 2006

abril 2006

maio 2006

junho 2006

julho 2006

agosto 2006

setembro 2006

outubro 2006

novembro 2006

dezembro 2006

janeiro 2007

fevereiro 2007

março 2007

maio 2007

junho 2007

julho 2007

outubro 2007

novembro 2007

dezembro 2007

fevereiro 2008

março 2008

abril 2008

maio 2008

junho 2008

julho 2008

agosto 2008

setembro 2008

outubro 2008

novembro 2008

dezembro 2008

janeiro 2009

fevereiro 2009

março 2009

abril 2009

maio 2009

junho 2009

julho 2009

agosto 2009

setembro 2009

outubro 2009

novembro 2009

dezembro 2009

janeiro 2010

fevereiro 2010

março 2010

abril 2010

maio 2010

junho 2010

julho 2010

agosto 2010

outubro 2010

novembro 2010

dezembro 2010

janeiro 2011

fevereiro 2011

março 2011

abril 2011

maio 2011

junho 2011

outubro 2011

dezembro 2011

janeiro 2012

março 2012